Para conseguir fortalecer a espécie contra vários patógenos, incluindo bactérias e vírus, uma equipe de pesquisadores da Universidade de Auburn, nos Estados Unidos, decidiu inserir um gene de jacaré no genoma dos bagres. O gene antimicrobiano é chamado catelidicina e desempenha um papel na resposta imune inata do animal.
A alteração genética foi feita na parte do genoma do peixe que codifica um hormônio reprodutivo essencial. Após uma série de experimentações, os bagres híbridos passaram a apresentar mais resistência a doenças e esterilidade. Entenda como esse tipo de mutação funciona dentro do campo científico!
Cerca de 50% dos peixes criados em fazendas nos EUA são bagres, um animal completamente explorado pela aquicultura — que não apenas contribui para mudanças climáticas, mas também sofre seus impactos. Porém, apenas 55% da população total desses peixes sobrevive à fase de alevino, ameaçando sua existência no meio ambiente e a sustentabilidade da indústria.
Os bagres não apenas são altamente suscetíveis a infecções bacterianas e estresses abióticos, mas também desenvolveram resistência a antibióticos nos últimos anos. Para sanar esses problemas, os cientistas estão tentando dar a esses peixes de água doce uma vantagem contra as circunstâncias, fornecendo-lhes um gene de jacaré que combateria doenças.
Esse sistema é chamado de Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats (CRISPR), que revolucionou o mercado de modificação de genes e tornou esse tipo de operação mais precisa, eficiente e acessível. De acordo com os pesquisadores de Auburn, a taxa de sobrevivência dos bagres trangênicos catelicidina chega a ser de 100 a 400% maior do que seus equivalentes nativos. Por se tornarem estéreis, esses híbridos causam menos problemas nos ecossistemas que forem inseridos.
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Preocupações éticas
(Fonte: Pixabay)
Um dos problemas dos bagres híbridos serem estéreis é que esse tipo de técnica não alivia as preocupações em relação ao sistema de procriação e competição de suas contrapartes selvagens, uma vez que as versões criadas em laboratório não teriam muito uso por parte dos aquicultores.
Além disso, o uso do CRISPR também tem gerado usa série de dúvidas sobre sua viabilidade técnica. Uma vez que esses animais não se reproduzem naturalmente, é difícil dizer que os cientistas conseguirão criar uma quantidade suficiente desses peixes para obter uma linha viável e geneticamente saudável para sustentar um mercado de consumidores.
Por fim, ainda existe uma incerteza em torno da aprovação dos peixes transgênicos para consumo humano, principalmente pelas grandes preocupações éticas em torno da modificação genética e suas potenciais consequências não intencionais ao uso do CRISPR. Sendo assim, a equipe de pesquisa planeja ficar de olho em como será a aceitação pública em relação à nova espécie de bagre durante os próximos meses.
Algo parecido já foi feito com o salmão AquAdvantage em 2021, que também foi geneticamente modificado para se tornar mais resistente a doenças e recebeu a aprovação de comercialização por parte da Food and Drug Administration (FDA), agência federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA, tempos depois.