Conexão e inclusão são as duas faces da humanização no atendimento promovida pelo Hospital Alberto Cavalcanti (HAC), a Maternidade Odete Valadares (MOV) e o Instituto Raul Soares (IRS), da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), com o projeto que permite acesso gratuito à internet sem fio (wi-fi) durante o tempo de permanência dos usuários nos hospitais.
A expectativa é de que, a partir do próximo semestre, o acesso gratuito à rede wi-fi alcance as outras unidades assistenciais, de forma gradativa, até se estender por toda a rede.
Nessa primeira etapa, iniciada há três meses, o projeto leva conectividade e interação a centenas de pacientes que, diariamente, utilizam os serviços dessas unidades e reforça o compromisso da Fhemig de cuidar cada vez melhor das pessoas quando elas mais precisam.
Eles e seus acompanhantes aprovam a novidade. Os pacientes têm se beneficiado do wi-fi grátis para conversar com a família e os amigos, se distrair e se informar e, com isso, driblar a ansiedade típica de quem está internado ou aguarda por uma consulta.
Bem-estar
Em recente pesquisa de opinião realizada com pacientes e acompanhantes na Maternidade Odete Valadares, a disponibilidade do acesso gratuito à internet foi bem avaliada e alcançou uma média de quatro pontos em uma escala de 1 a 5, o que demonstra a qualidade do serviço e sua aprovação pelos usuários.
Segundo o coordenador de Infraestrutura de Tecnologia da Informação e Comunicação da Diretoria de Planejamento, Gestão e Finanças da Fhemig (DPGF), Guilherme Augusto Pessoa de Castro, a ação está inserida em um projeto de melhoria e modernização da infraestrutura de rede das unidades, que visa proporcionar melhor sustentação e acesso aos sistemas administrativos e assistenciais.
“A hospitalização pode ser estressante e solitária. A possibilidade de contato com os familiares, mesmo à distância, contribui para o bem-estar mental dos pacientes e ajuda a reduzir a ansiedade e a sensação de isolamento. Além disso, a conexão com a família é fundamental para o processo de recuperação. Pacientes que se sentem apoiados e conectados têm melhores resultados médicos”, sublinha o coordenador.
Encurtar distâncias
O médico Gustavo Hierro Miranda Batista, que atua no Hospital Alberto Cavalcanti, do Complexo Hospitalar de Especialidades (CHE), conta que a disponibilidade do acesso à rede de internet gratuita tem contribuído para a qualidade do atendimento aos pacientes, desde que começou a ser implantada no hospital há três meses.
“Lidamos com pessoas com a saúde bastante comprometida e o acesso à internet gratuita é um conforto para elas, na medida em que conseguem entrar em contato com familiares e se distraírem assistindo a vídeos pelo telefone. Observo uma melhora para o cuidado que oferecemos aos nossos pacientes e também para os profissionais que têm desfrutado da internet para aprimorar os serviços prestados”, avalia o médico.
Enquanto faz quimioterapia na sala de infusão de quimioterápicos do HAC, o aposentado Sidinei Pascini da Silva Costa, 60 anos, casado e pai de três filhos, viaja os mais de 9 mil quilômetros que separam a capital mineira da capital da Inglaterra em apenas alguns segundos, por meio do acesso gratuito à internet, para falar com o seu primo, que mora naquele país, sobre a sua saúde e a evolução do tratamento, além de colocarem a conversa em dia.
Proximidade
Sidinei, que é atendido no HAC desde fevereiro deste ano, conta que além das conversas com os familiares de Minas, do Brasil e da Europa, gosta de usar o serviço gratuito para acessar aplicativos de compartilhamento de vídeos e assistir a reportagens.
“Eu acesso a internet gratuita do hospital desde que começou. Costumo acessar o TikTok e o noticiário. Converso bastante com a família. Hoje mesmo eu estava conversando com o meu cunhado do Paraná. Com o wi-fi melhorou consideravelmente. Estou muito satisfeito, tanto com o tratamento que é excelente quanto com a qualidade da internet que é grátis”, assegura o aposentado.
A poucas cadeiras de distância de Sidinei, está o pedreiro Flávio Henrique Guimarães Silva, 42 anos, solteiro, dois filhos. Ele realiza quimioterapia na unidade há um ano.
“O atendimento é maravilhoso. Aqui eles cuidam da gente. A minha internet paga não pega dentro do hospital. Ter a gratuita é muito bom para eu me comunicar com minha família. Eu acesso bastante o Whatsapp para conversar com meus familiares, que ficam preocupados comigo e querem acompanhar. Sou pai solteiro e com a internet grátis, tenho sempre notícias de como estão os meus filhos”, conta.
Calma e alegria
A dona de casa e pensionista Angela Maria de Jesus, 48 anos, solteira e mãe de dois filhos, aguardava, na enfermaria do primeiro andar do HAC, a chegada do motorista para levá-la para casa em Ouro Branco, após dois dias de internação para uma cirurgia.
O contato com o condutor do veículo foi realizado por meio do Whatsapp a partir da rede wi-fi gratuita do hospital.
“Fiquei surpresa ao saber que um hospital público oferecia wi-fi gratuito para os pacientes. Faço tratamento no Hospital Alberto Cavalcanti há seis anos devido a um câncer de mama. Nos dois dias em que estive internada, usei a internet para me comunicar com os meus familiares e acessar o Facebook também. Eu acho que o hospital melhorou ainda mais com o wi-fi. Hoje em dia, precisamos da internet para tudo. Fiz minha quimioterapia aqui e retorno todo ano para controle. Eu gosto muito desse hospital. É um dos melhores que eu já frequentei”, elogia.
Em outra enfermaria, a dona de casa Edinaura Barbosa Guieiro, 52 anos, casada, três filhos, lembra que, antes do wi-fi gratuito, era difícil se comunicar com os filhos, o marido e os demais familiares durante o tempo em que permanecia no HAC.
“O plano de dados está muito caro e ter o wi-fi gratuito no hospital ajuda bastante. Agora, posso falar com os meus filhos e o meu esposo, mesmo estando longe. Eles ficam mais tranquilos e eu também. Uso a internet para assistir um filme, acessar as redes sociais e conversar com meus amigos. Isso traz alegria para mim. Ouvir música também me acalma muito. Acesso todos os dias e ouço canções do Vander Lee e Seu Jorge entre outros”, revela Edinaura.
Sorrisos
A aposentada Solange Bonfim, 59 anos, divorciada e mãe de um filho, afirma que sempre que ouve alguém dizer que o hospital poderia ter wi-fi gratuito, logo se dispõe a informar que o serviço existe.
“Essa internet grátis tem me ajudado tanto que eu até costumo passar (a informação sobre ela) para outras pessoas. Às vezes, alguém comenta comigo que poderia ter internet gratuita no hospital. Aí, eu digo que tem e vou mostrando para o pessoal onde fica a senha do wi-fi. Eu achei uma maravilha ter internet gratuita no hospital público. Com isso, a gente economiza. Tem hora que o crédito acaba e você quer falar com urgência e não consegue. Essa ideia foi maravilhosa”, comenta.
Internada há 17 dias, Solange é paciente do Hospital Alberto Cavalcanti há um ano, quando foi tratada em razão de um câncer de estômago. Ela diz que usa o serviço principalmente para falar com o filho.
“Converso muito com ele e com minha irmã. Poder acessar a internet, me ajuda a acalmar. Tem hora que fico sem saber o que fazer. Ter esse acesso me distrai. Me sinto muito acolhida e bem assistida no hospital. Estou há tanto tempo aqui que eles (os profissionais da unidade) já me conhecem. O tratamento é nota 10, eu gosto muito”, pontua.
Acostumado a conversar com os pacientes, o enfermeiro especialista em oncologia João Samena Nanquida conta que, na primeira semana de wi-fi gratuito no hospital, ele não entendia porque ao chegar para atender as pessoas, elas estavam sempre usando o celular.
“Antes, para entrar na internet, eu tinha que ir até o pátio do hospital. Agora, dentro da enfermaria é possível acessar a rede. No caso do paciente, isso permite um maior relaxamento e uma maior conexão emocional com a família. A ansiedade que os pacientes apresentavam antes melhorou muito. Você percebe as pessoas sorrindo e comentando os conteúdos que elas acessam”, sublinha.
Filtro
O serviço de wi-fi destinado aos pacientes e acompanhantes funciona separado da rede corporativa da unidade assistencial, de forma a assegurar que o seu uso não interfira na comunicação interna dos hospitais.
Além disso, a rede wi-fi gratuita conta com um filtro fornecido pela Companhia de Tecnologia da Informação do Estado de Minas Gerais (Prodemge), que bloqueia o acesso a conteúdos impróprios.
Para a gerente assistencial do IRS, Andreia Silva Lima, o wi-fi gratuito tem contribuído para o trabalho desenvolvido pelas equipes do hospital, nas construções com a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) e nos contatos com os familiares dos usuários do serviço.
“Nossos pacientes não têm acesso livre ao celular. O uso dessa tecnologia é realizado com monitoramento, a partir da construção do Projeto Terapêutico Singular (PTS). Essa restrição se deve ao quadro de saúde do paciente, que se encontra desorganizado psiquicamente”, esclarece a gerente.