A pandemia acelerou o processo de estudo das vacinas com a tecnologia mRNA, nunca antes oferecidas ao mercado em grande escala. Hoje, o mundo conta com duas opções aprovadas em alguns países como Reino Unido, Estados Unidos, Canadá e Israel: a da empresa alemã BioNTech em parceria com a farmacêutica Pfizer, que demonstrou uma taxa de eficácia de 95% na prevenção da covid-19, e da Moderna, uma desenvolvedora de vacinas com sede em Massachusetts, nos EUA, em parceria com o National Institutes of Health, com taxa de eficácia de 94,1%.
A vantagem dessa tecnologia é dispensar o cultivo de vírus em laboratório (como requer a CoronaVac, produzida a partir do vírus inativado). Os imunizantes são criados a partir da replicação de sequências de RNA por meio de engenharia genética, o que torna o processo mais barato e mais rápido. A aprovação das vacinas de terceira geração, como são chamadas, representam um marco para a ciência.
Nunca tínhamos chegado a resultados tão eloquentes quanto os que estão sendo observados agora. Existe um histórico recente de outros testes com vacinas de mRNA: contra a febre do Nilo ocidental, que teve bons resultados, mas não chegou ao mercado. Outro imunizante desse tipo chegou a ser utilizado emergencialmente para uma espécie de teste durante a última epidemia de Ebola. Mas a primeira que poderá ser utilizada em todo o mundo será essa, contra a covid-19.
Para que serve o RNA mensageiro na vacina?
Para produzir proteínas, nosso corpo naturalmente usa RNA, um tipo de ácido nucleico “primo” do DNA que funciona como um intermediador capaz de expressar as informações presentes no nosso código genético. Para simplificar, o RNA ajuda no processo de transcrição e tradução das nossas características genéticas (que estão sempre contidas no DNA).
Cada um dos três tipos tem uma função específica.
- RNAr (RNA ribossômico): forma ribossomos que ligam aminoácidos em proteínas;
- RNAt (RNA transportador): leva aminoácidos ao interior das células, até o local de síntese de proteínas;
- RNAm (RNA mensageiro): transmite a mensagem genética para os ribossomos, indicando quais os aminoácidos e qual a sequência que devem compor as proteínas.
As vacinas de Pfizer e Moderna usam o RNA mensageiro para mimetizar a proteína spike, específica do vírus Sars-CoV-2 —causador da covid-19—, que o auxilia a invadir as células humanas. Essa “cópia”, no entanto, não é nociva como o vírus, mas é suficiente para desencadear uma reação das células do sistema imunológico, que cria uma defesa robusta no organismo.
Até o início do século, a ciência não era avançada o suficiente para fazer com que o RNA mensageiro produzisse alguma proteína específica ao ser colocado dentro de um um organismo vivo. Isso por que a molécula com as instruções para a fabricação de proteínas era sensível e facilmente destruída.
A partir de 2005, pesquisas científicas começaram a difundir conhecimento adquirido sobre técnicas para tornar essa estrutura mais estável, como inseri-la em pequenas partículas de gordura.
Mesmo assim, devido à sua fragilidade, as moléculas de mRNA se desintegram rapidamente quando expostas à temperatura ambiente. Por isso, necessitam ser armazenadas em temperaturas baixas — o principal desafio dos países que aprovaram esses imunizantes.
Em laboratório, depois de criar a sequência genética capaz de induzir a produção de proteínas parecidas com a do novo coronavírus, o cientista a insere em partículas lipídicas — que são muito delicadas, daí a necessidade de temperaturas baixíssimas — e que possibilitam o transporte dessa sequência genética para dentro das células da pessoa vacinada.
FONTE: VIVABEM