Béla Kiss: o ‘vampiro’ que conservava suas vítimas

Nascido em 28 de julho de 1877 na cidade de Izsák, na Hungria, Béla Kiss teve uma infância misteriosa. Filho de János Kiss e Verona Varga, acredita-se que a adolescência do homem foi marcada por um sórdido relacionamento incestuoso com sua mãe após a morte do seu pai. Sua vida só começou a ser documentada a partir de 1900, quando ele alugou uma casa na cidade de Cinkota, nos arredores de Budapeste, no auge de seus 23 anos.

Lá, ele passou a administrar o próprio negócio, tornando-se um influente ferreiro. Todos falavam de como o solteiro Kiss era um cavalheiro excepcional e de como qualquer mulher teria sorte de se casar com ele. Loiro, forte, de estatura alta e imponente, não demorou muito para que o homem cativasse o coração de alguma mulher, e essa foi Marie, com quem ele se casou e teve dois filhos, Aranka e llonka.

A vida de Kiss começou a mudar em meados de 1912, depois que Marie o abandonou para fugir com um amante, Paul Bikari, e ele teve que contratar a governanta Sra. Jakubec para poder cuidar da casa e de seus filhos.

O cheiro de podre

(Fonte: Pinterest/Reprodução)(Fonte: Pinterest/Reprodução)

Foi com o tempo que Jukubec descobriu que Kiss possuía um peculiar interesse por astrologia e ocultismo, visto que, apesar de ser muito querido pelos habitantes de Cinkota, ele era um homem reservado demais para falar sobre a própria vida. A governanta também percebeu que Kiss se correspondia com várias mulheres, normalmente por meio de anúncios que colocava em jornais, oferecendo seus serviços como agente matrimonial ou cartomante.

Apesar de sua curiosidade, Jakubec nunca conseguiu manter contato com as mulheres que Kiss recebia em casa, nem mesmo para lhes oferecer algo para beber. As visitas chegavam sozinhas e ela nunca as via ir embora. Ela poderia ter suspeitado de algo, mas o que acontecia estava longe de qualquer tipo de suspeita.

Em 1914, Kiss foi recrutado pelo Exército para servir na Primeira Guerra Mundial e deixou seus filhos e sua casa aos cuidados de Jakubec. Em julho de 1916, surgiram boatos de que Kiss havia sido morto na Sérvia após ser capturado, portanto o dono de seu imóvel começou a se preparar para alugar a casa novamente.

(Fonte: Onedio/Reprodução)

Assim que chegou no imóvel, o homem logo notou os 7 tambores de metal no quintal dos fundos da casa. Jakubec e a polícia local foram informados por Kiss de antemão de que se tratava de gasolina armazenada como precaução para o racionamento durante a guerra. Contudo, tanto os vizinhos quanto a própria Sra. Jakubec acreditavam que se tratava de alguma bebida alcoólica.

Quando o proprietário decidiu abrir um dos latões, ele percebeu que a tampa estava soldada. Assim que ele conseguiu fazer um furo nela, o cheiro de podridão que vazou e contaminou o ar foi tão forte que atraiu a atenção de um vizinho especializado em química. Ele afirmou que aquele cheiro era de carne em decomposição.

Em conserva

(Fonte: Lost and Found in Budapeste/Reprodução)

O detetive chefe da Polícia de Budapeste, Charles Nagy, foi convocado com seus homens para inspecionar os latões de metal. Dentro de um deles, os policiais encontraram o cadáver de um jovem com cabelos longos e uma corda ao redor de seu pescoço. Ele estava relativamente bem preservado submerso em uma salmoura de metanol que agia como conservante e diminuía o processo de decomposição. Os 6 outros tambores revelaram mais corpos nus, só que de mulheres. Todas foram estranguladas.

No total, foram encontrados 24 cadáveres, inclusive o da esposa de Kiss e de seu amante. A investigação policial também revelou que os corpos possuíam marcas de perfurações nos pescoços e que o sangue havia sido drenado deles. Foi a partir daí que eles chegaram à assustadora conclusão de que Kiss poderia ter praticado vampirismo.

(Fonte: NY Daily News/Reprodução)

Nagy informou as Forças Armadas húngaras que Béla Kiss deveria ser preso imediatamente se ainda estivesse vivo. Enquanto isso, ele levou Jakubec como cúmplice do homem e pediu aos correios que interceptassem todas as cartas enviadas ao criminoso. A governanta, por sua vez, garantiu à polícia que não sabia de nenhum daqueles horrores perpetrados pelo seu patrão, inclusive mostrou a eles um quarto secreto que Kiss a proibiu de entrar.

(Fonte: NY Daily News/Reprodução)

O cômodo estava repleto de estantes que continham livros sobre o manuseio e aplicação de venenos e formas de estrangulamento. Em uma mesa no centro do local, havia cerca de 74 cartas de mulheres diferentes, sendo que a mais antiga datava de 1903. Ou seja, há 8 anos Kiss enganava suas vítimas para conduzi-las para a morte. Todas as mulheres eram de meia-idade e procuravam por casamento em anúncios de jornais. Elas não possuíam parentes próximos e não conheciam ninguém que pudesse perceber o seu desaparecimento súbito. Kiss as seduziu e chegou até a enviar dinheiro para cada uma delas.

Katherine Varga, uma das vítimas, vendeu seu influente negócio de costura para viver uma vida com Kiss. Ela foi vista pela última vez deixando sua casa em Budapeste, sem imaginar que o homem recebeu cerca de 174 propostas de casamento por jornais, e aceitou 74 delas. Só 20 mulheres foram encontrar seu fim na casa dele, enquanto as demais provavelmente perceberam o erro no qual estavam se metendo.

O homem da noite

(Fonte: Pinterest/Reprodução)

Finalmente, em 4 de outubro de 1916, o detetive Charles Nagy recebeu uma carta que afirmava que Béla Kiss estava hospitalizado na Sérvia. No entanto, quando ele chegou ao hospital indicado, já era tarde demais. O criminoso havia fugido, apesar da segurança do local e das autoridades militares.

Na verdade, não se sabe exatamente se era de fato o Béla Kiss que Nagy procurava, visto que o nome era muito comum na época, principalmente em meio aos soldados. De qualquer forma, esse foi o mais perto que a polícia chegou de capturar o “Vampiro de Cinkota”, como ele ficou conhecido. A mídia fez seu papel de espalhar o caso do assassino aos quatro cantos, o que resultou em centenas de avistamentos do homem ao longo dos anos. Todas as pistas seguidas pela polícia não levaram a lugar algum.

Em 1932, um influente detetive de Nova York, especializado em reconhecimento facial, alegou que viu Béla Kiss saindo de uma estação de metrô na Times Square, mas que acabou o perdendo na multidão. O ano de 1936 ficou marcado pela última investigação acerca do paradeiro do “vampiro”, quando surgiram boatos de que ele trabalhava como zelador em um condomínio no subúrbio de Nova York. Antes que a polícia chegasse ao local, o homem já havia desaparecido.

O destino exato de Béla Kiss nunca foi identificado, tampouco quantas vítimas a mais ele fez, e quantos corpos ele drenou o sangue e encerrou em algum lugar para sempre.

FONTE: megacurioso

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