O presidente do IPHAN, Leandro Grass, exaltou a importância de se investir em campanhas que aproximem as pessoas do patrimônio público
Eder Wen – Agência CLDF
Arquitetos, especialistas em restauração e servidores públicos estiveram reunidos na tarde desta quinta-feira (16), na Câmara Legislativa, para discutirem os prejuízos causados pelos atos terroristas do dia 8 de janeiro, bem como os esforços para a recuperação do patrimônio público. O debate, realizado em formato de comissão geral, foi proposto pelo deputado Fábio Félix (PSOL). “O debate de hoje faz parte de um processo de discussão que estamos fazendo na Câmara Legislativa para que o que aconteceu nunca mais se repita”, explicou o distrital, que também é integrante da CPI dos Atos Antidemocráticos.
Ex-deputado distrital e atual presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), Leandro Grass observou que os atos terroristas foram impetrados não somente contra o patrimônio nacional. “Brasília é patrimônio mundial da humanidade desde 1987, então foram ataques à civilização. Ataques ao que é do mundo todo, de todas as nações”, afirmou.
Grass exaltou a importância de se investir em campanhas que aproximem as pessoas do patrimônio público. “Precisamos desenvolver um plano de ocupação da Praça dos Três Poderes, com atividades culturais e recreativas. É preciso retomar as visitas aos palácios, a presença do povo nesses espaços. A gente precisa fortalecer o valor simbólico dessas instituições”, defendeu. Grass também elogiou o empenho de servidores em defesa do patrimônio público e destacou a coragem de um vigilante que impediu a destruição da maquete de Brasília arriscando a própria vida.
Representando o Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), Luiz Sarmento também enalteceu o trabalho dos servidores públicos na recuperação dos palácios depois dos atos terroristas. “Quero reforçar a importância dos servidores públicos nesse processo. Arquitetos do IPHAN já estavam lá no dia dos ataques. No dia seguinte, vários espaços já estavam liberados para uso. Foram muitos servidores trabalhando já na noite do dia 8”, relatou. O arquiteto também relatou que houve uma tentativa real de se incendiar o Congresso Nacional. “Se tivessem logrado êxito, teríamos nada mais nada menos do que o que aconteceu na Alemanha nazista, quando o parlamento alemão foi incendiado”, afirmou.
A ex-deputada distrital Arlete Sampaio também participou do debate. Tendo atuado em anos anteriores na Comissão de Assuntos Fundiários da Casa, Arlete é ligada a movimentos de preservação do patrimônio cultural. A ex-parlamentar descartou qualquer semelhança entre os atos terroristas do dia 8 de janeiro e a invasão do Capitólio, nos Estados Unidos, em 2021. “Não tem comparação com o que aconteceu no Capitólio. A extrema direita fascista aqui se impregnou nas forças armadas. Lá não teve participação dos militares. Aqui houve uma permissividade para que as coisas acontecessem daquela maneira”, observou.
Profissional de preservação e restauração da Câmara dos Deputados, Gilcy Rodrigues Azevedo não conteve a emoção ao relatar o cenário de destruição deixado pelos terroristas. “Como servidora da Câmara dos Deputados por mais de 30 anos, é muito difícil não chorar. É muito difícil falar disso sem lembrar daquele Salão Verde todo destruído, com as obras de arte em cacos. Conseguimos cuidar dos bens porque foram 300 pessoas trabalhando. Todos estávamos ajoelhados no chão catando os cacos. O que estávamos fazendo ali não era só uma restauração de objetos, mas a devolução da democracia para seu lugar de origem. O patrimônio não tem voz, mas a sua destruição ecoa por gerações”, afirmou.