Presidente da Câmara se recusa a furar fila de CPIs e empurra investigação sobre descontos indevidos a aposentados para o Senado
O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), repassou ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), a responsabilidade de instaurar uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre os descontos indevidos a aposentados do INSS, revelados em série de reportagens pelo portal Metrópoles. A decisão livra Motta de uma das principais polêmicas envolvendo a crise no sistema previdenciário.
Sob pressão da oposição, especialmente de parlamentares ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro, Motta afirmou que não furará a fila das CPIs já protocoladas na Câmara. A medida frustra os opositores, que tentavam destravar a instalação da comissão por meio de manobras regimentais. Com isso, resta à oposição investir esforços na criação de uma CPI mista, envolvendo senadores e deputados.
Na prática, a mudança transfere o foco do debate para o Senado, onde Alcolumbre deverá avaliar a viabilidade da nova comissão. Conforme mostrou a coluna Igor Gadelha, a CPI mista tende a ser composta majoritariamente por parlamentares da base governista, o que pode limitar seu alcance investigativo, a exemplo do que ocorreu na CPMI dos atos de 8 de janeiro.
A postura de Hugo Motta segue a linha que ele vem adotando desde que assumiu a presidência da Câmara, em fevereiro de 2025. O deputado paraibano tem evitado se envolver em temas controversos e buscado costurar acordos antes de pautar votações. O episódio mais emblemático desse comportamento foi o bloqueio do pedido de urgência para votação do PL da Anistia.
Apesar da postura moderada, Motta já cedeu em alguns momentos à pressão do Centrão. Um exemplo foi a decisão de pautar o pedido de suspensão de ações no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), medida aprovada mesmo com resistência da bancada governista. Fora isso, tem atuado para reduzir conflitos no plenário.
A expectativa agora recai sobre Davi Alcolumbre e sobre os senadores que integrarão a eventual CPI mista. Enquanto isso, as denúncias envolvendo a atuação de entidades financeiras e os supostos esquemas de descontos ilegais em aposentadorias seguem repercutindo no Congresso e aumentando a pressão por uma investigação formal.