CSP aponta falhas no Cadastro Nacional de Pessoas Desaparecidas — Senado Notícias


A Comissão de Segurança Pública (CSP) concluiu nesta terça-feira (17) sua avaliação sobre a Política Nacional de Busca de Pessoas Desaparecidas (PNBPD), realizada durante o ano de 2024. Os integrantes do colegiado aprovaram o relatório final da senadora Damares Alves (Republicanos-DF) que, entre outros pontos, aponta falhas na implementação da política e a falta de monitoramento de seus resultados.

Damares afirmou que o Cadastro Nacional de Pessoas Desaparecidas (CNPD) ainda não está efetivamente implementado e que há informações “conflitantes” entre ele e outros sistemas utilizados. O cadastro, que foi criado na mesma lei que instituiu a PNBPD (Lei 13.812, de 2019), deve centralizar e integrar bancos de dados diversos para otimizar a busca desses indivíduos.

— Tem vários cadastros. [O Ministério Público] fala que tem 101.000 pessoas desaparecidas. Aí vamos para o Ministério da Justiça, tem um outro número. Vamos a uma secretaria de segurança [estadual], tem um outro número. Nós precisamos ter a integração dos cadastros, até hoje não há compartilhamento de dados. Esse foi o maior problema [diagnosticado].

Segundo o relatório, os bancos de dados desses órgãos, da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal “não se comunicam ou se comunicam parcialmente”, no âmbito da política. 

O CNPD não foi a primeira tentativa “frustrada” de centralizar nacionalmente informações de desaparecidos, segundo o documento. Já em 2009 foi aprovado o Cadastro Nacional de Crianças e Adolescentes Desaparecidos, que agora é parte do CNPD. Em 2012 e 2016 também houve tentativas de unificação dos bancos de dados, conforme relata Damares.

A consolidação das informações deve ser feita pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), autoridade central da PNBPD para coordenar diversos outros órgãos de segurança e de direitos humanos, de todos os entes federados.

Padronização

O relatório aprovado traz 16 recomendações ao Poder Executivo para melhorar a PNBPD. Entre elas está justamente a implantação completa do CNPD, o que só ocorrerá com a padronização dos diferentes sistemas de dados do gênero e dos boletins de ocorrência (BO) feitos pelas polícias dos estados.

Segundo o documento, apenas 11 estados brasileiros utilizam atualmente, no BO, o padrão do Procedimento Policial Eletrônico (PPE), enquanto outros 16 empregam sistemas próprios. Uma das sugestões da comissão para a uniformização é a anexação de uma foto recente e digitalizada da pessoa desaparecida.

A nova Carteira de Identidade Nacional (CIN) também é uma das apostas da CSP para a integração de dados. Ela inclui dados biométricos e do Cadastro de Pessoas Físicas (CPF), além de permitir vínculos com registros de saúde, previdência social e segurança pública. A CIN já está em implementação, sendo que todos brasileiros deverão possuí-la até o fim de 2032.

Santa Catarina

Para o senador Jorge Seif (PL-SC), a falta de alinhamento nos dados e nas investigações policiais gera discrepância na taxa de localização de desaparecidos entre os estados brasileiros. 

— Santa Catarina faz de um jeito, o Pará faz de outro, São Paulo faz de outro… Nós precisamos, de alguma forma, fazer uma política nacional que seja seguida pelas forças de segurança.

Ele apontou o estado de Santa Catarina como um “exemplo a ser seguido” no Brasil. Segundo o relatório, o estado possui taxas de mais de 80% de localização nos últimos anos.

O colegiado fez uma visita a Santa Catarina para analisar o Programa SOS Desaparecidos da Polícia Militar do estado (PMSC). A visita também ocorreu no Distrito Federal e no Pará. No estado do Norte, segundo relatou Damares, menos de 10% das pessoas desaparecidas são encontradas. 

Certidão de nascimento

Com a aprovação do relatório, o colegiado oficializa indicação ao Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania para que a pasta fortaleça a política que expande cartórios integrados em maternidades: o Compromisso Nacional pela Erradicação do Sub-registro Civil de Nascimento e Acesso à Documentação Básica. Para Damares, a dificuldade de buscar desaparecidos está relacionada à ausência de documentos oficiais de identidade e de nascimento. 

— Se não sabemos quantas crianças estão nascendo no Brasil, não sabemos quantas de fato estão desaparecendo, estão vivas e faleceram — disse ela.

A indicação é um instrumento utilizado por senadores ou comissões do Senado para sugerir a outro Poder a adoção de providência. O documento não precisa ser votado ou respondido pela autoridade a que se destina.

Apoio multidisciplinar

A relatora ainda considerou que a assistência psicológica e social do poder público às famílias de pessoas desaparecidas, prevista em lei, não está sendo feita “em lugar nenhum do Brasil”. Para isso, o relatório vislumbra a criação de “centros de referência multidisciplinares” para o acolhimento dos familiares.

A senadora Margareth Buzetti (PSD-MT), que presidiu a reunião da CSP, apontou a gravidade da experiência para famílias nesta situação.

— Eu já tive contato com várias pessoas que têm filhos desaparecidos já há 5 anos, sem saber se morreram, o que aconteceu. É uma agonia sem fim — lamentou.

Monitoramento

O diagnóstico de Damares é que a única ferramenta usada pelo Comitê Gestor da PNBPD para avaliar seus resultados é o próprio CNPD, ainda inefetivo. O comitê, responsável pelo monitoramento, elabora relatórios periódicos com informações do cadastro para verificar o desempenho das buscas, a eficiência das investigações e o tempo de resposta das autoridades em casos de desaparecimento.

No entanto, além da falta de informações consolidadas no sistema, não há atualização segura dos casos em que a pessoa desaparecida volta para casa e não é feita a  “baixa” do desaparecimento. 

Para contornar a deficiência, a comissão sugere que a monitoração conte com a participação das famílias, de auditorias conduzidas por órgãos públicos externos e da sociedade civil. Neste caso, o documento elogia a parceria feita com a empresa Meta para divulgação de desaparecidos em suas redes sociais (Facebook e Instagram, por exemplo). 

Avaliação de políticas

O resultado dos trabalhos da CSP, requerido inicialmente por Damares e pelo senador Jorge Kajuru (PSB-GO) (REQ 9/2024), também será enviado aos diversos órgãos que atuam na PNBPD. 

A avaliação de políticas públicas no Senado é resultado de uma resolução aprovada em 2013 para fortalecer o papel fiscalizador da Casa. De acordo com a norma, cada comissão permanente do Senado deve eleger uma política pública por ano para avaliação.

Agência Senado (Reprodução autorizada mediante citação da Agência Senado)



Source link

website average bounce rate

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui