De onde veio o aspic, o prato com comida boiando dentro de uma gelatina?

Essa técnica tem uma curiosa origem, e foi considerada um luxo exótico até o século 20

FONTE: AVENTURAS NA HISTÓRIA

Quem topou com um livro de receitas dos tempos da vovó deve lembrar. Um mesmerizante objeto, em algum lugar entre beleza e horror. Quase arte moderna. Um peixe – ou uma salada, ou ovo, ou qualquer coisa – boiando no meio de uma gelatina transparente.

Seu nome é aspic e ele data da era dos cavaleiros, não dos astronautas. Surgiu quando se percebeu que, após o preparo de carnes, o caldo restante, quando esfriava, dava origem a uma substância sólida, se tremelicante. A primeira evidência é de 1375 no Le Viandier – um dos mais antigos livros de receitas conhecidos.

Modo de fazer: cozinhe carne – boi, peixe, aves ou porco – por algumas horas, em fogo baixo. Resfrie o caldo restante, remova a gordura que se forma acima. O caldo pode então ser reaquecido e posto sobre alimentos tradicionalmente consumidos quentes e previamente preparados, como os próprios cortes de carnes ou legumes. Que nele ficam envoltos, flutuando de forma hipnótica.

Até o século 20, o aspic foi um luxo exótico. Então, havia dado origem a outro produto: a gelatina neutra industrial, fruto de técnicas que permitiram tirar o gosto de carne.

A presença do aspic no livro da vovó se deve a uma ação de marketing. Depois da Segunda Guerra, com a popularização das geladeiras, indústrias de gelatina começaram a fornecer amostras para degustação e livros de receitas gratuitos. Como era algo que exigia geladeira, o aspic se tornou um símbolo da modernidade da era espacial.

Combinava basicamente com tudo. Ou assim se achava. Era motivo de orgulho para as donas de casa que moldavam delicadamente os alimentos que seriam vistos pelas visitas. De atum em lata até cachorro-quente, tudo parecia fazer sentido ao ser embrulhado pelo caldo transparente.

O aspicmania teve o mesmo destino que a os penteados bufantes, almoços de negócios regados a Martini, fumar no elevador e viagens à Lua. Memória de um tempo em que tudo parecia possível (e aceitável).

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