É bem possível que somente agora o establishment brasileiro — refiro-me àquele que se formou no grande acordo entre o centrão, que vende até a alma, os tribunais superiores e a extrema-esquerda — esteja começando a perceber o buraco em que se enfiou. No afã de “segurar a cobra” (isto é, aquilo que consideram seu inimigo) e tentar arrancar-lhe a cabeça, em janeiro passado, esse establishment, especialmente a aliança entre a esquerda agora no poder e os tribunais superiores, agiu de forma totalmente descuidada para consolidar seu poder. Poder esse, aliás, debilitado por uma eleição em que, de fato, ninguém obteve uma maioria significativa que conferisse a legitimidade necessária para operar com plenitude a administração do país — o que acabou resultando em um simulacro de golpe de Estado.
Tudo parecia muito bem planejado: o projeto midiático estava pronto, todas as diretrizes jurídicas alinhadas e preparadas para prender milhares de pessoas — na verdade, uma massa descontrolada — e, assim, legitimando o poder da esquerda para além do voto. No entanto, esqueceram-se de que o jogo é jogado não apenas dentro das fronteiras nacionais, especialmente em um mundo polarizado e à beira de um conflito global, onde o Brasil sempre integrou a esfera econômica, militar e de influência dos Estados Unidos da América. Resumindo: esqueceram de combinar com o Tio Sam. E agora, José? Ou melhor, e agora, Alexandre?
Para dar prosseguimento a esse plano, o Supremo Tribunal Federal — especialmente o ministro Alexandre de Moraes — distorceu, reinterpretou, ressignificou e reescreveu praticamente todas as regras constitucionais e infraconstitucionais do direito penal brasileiro. O que, em tese, e somente em tese, permitiu a ele instaurar inquéritos extraordinários, se não a criação, de fato, de um estado de exceção.
Nessa trajetória, acabou por esbarrar em um dos homens mais ricos e poderosos do mundo, o cidadão americano Elon Musk. Ao longo deste ano, vimos a crescente tensão entre Alexandre de Moraes e Musk — até então, apenas um visionário da tecnologia e cidadão civil. Contudo, no dia 1º de janeiro, Musk pode adquirir o status de secretário de Estado no governo do presidente eleito Donald Trump. Para quem não sabe, esse cargo é equivalente ao de ministro no Brasil. E aí vem a pergunta: e agora, José? E agora, Alexandre? Vocês pretendem manter um secretário do governo americano, da nação mais poderosa do planeta, dentro de um inquérito sobre supostas fake news?