Em trecho da ácida entrevista ao Daily Mail, Toto Wolff cutucou Fernando Alonso, disse que é um pecado o espanhol ter só dois títulos, mas criticou a arrogância do piloto
No último fim de semana, Toto Wolff deu uma entrevista efervescente ao diário britânico Daily Mail. Ácido, o chefe da Mercedes disse esperar que a disputa entre Lewis Hamilton e Max Verstappen pode acabar como Ayrton Senna e Alain Prost em 1989 e 1990, disparou contra o rival Christian Horner e o chamou de “ator pequeno de Hollywood” e sobrou até para Fernando Alonso. Sem filtro, o austríaco iniciou sua fala sobre a suposta falta de reconhecimento que Lewis Hamilton tem por parte do público no Reino Unido para cutucar o espanhol e o considerar como um dos pilotos que se sentem maiores do que realmente são.
Durante a longa entrevista ao jornal londrino, Wolff explicou os motivos pelos quais acredita que Hamilton não tem o apreço que deveria ter do público britânico. Na visão do chefe da Mercedes, muito disso passa pelo fato de Lewis estar sempre em evidência desde quando iniciou sua trajetória na Fórmula 1.
“Acho que Lewis não é tão bem considerado aqui como deveria, por muitas razões. Ele teve muito sucesso logo de cara com a McLaren, e a história da sua vida antes disso, as dificuldades financeiras, o racismo ao qual foi exposto, é algo que nunca foi visto pelo público”, explicou Toto.
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Toto Wolff deu entrevista demolidora ao Daily Mail no último fim de semana (Foto: Jiri Krenek/Mercedes)
“As pessoas não viram isso. O que eles viram foi um jovem entrando na Fórmula 1 e tendo sucesso desde o começo. E porque ele é uma pessoa extravagante e que polariza ainda mais. As pessoas não conseguem lidar com isso muito bem”, disse.
“É muito difícil lidar com uma pessoa que os outros acham que tem tudo, que ganha o tempo todo. Quanto mais você ganha, mais as pessoas torcem pelo azarão”, complementou Wolff, que também acredita que Hamilton só vai ter o devido reconhecimento pelos seus feitos — heptacampeão mundial, dono de 100 vitórias e 101 poles até o momento — quando encerrar sua carreira nas pistas.
“Só quando ele se aposentar, acho, as pessoas vão entender a magnitude das suas realizações”, acrescentou o dirigente.
Na visão do comandante da Mercedes, o sucesso de Hamilton passa por estar sempre no carro certo na hora certa, mas também porque o piloto arriscou em uma transferência à época bastante criticada: a troca da vencedora McLaren pela então promissora Mercedes. Um ano depois, a equipe alemã abriu uma dinastia com a abertura da era híbrida de motores.
“As pessoas que dizem que poderiam ter sido campeões mundiais no carro de Lewis… Bem, por que você não está então naquele carro? Por que ele foi da McLaren para a Mercedes em 2013? Foi uma jogada ousada”, salientou.
Daí em diante, Wolff falou sobre pilotos que são movidos por outras motivações, não necessariamente ter o melhor carro. E foi aí que o austríaco aproveitou para cutucar Alonso. “Existem exemplos, mesmo agora, de pilotos que optaram pelo dinheiro ao invés do carro”.
Toto Wolff disse que Alonso optou por dinheiro ao invés de ter um grande carro na F1 (Foto: Alpine)
“Fernando Alonso é, sem dúvida, um dos melhores pilotos que já correram na F1. Sempre. É decepcionante para o esporte que ele não tenha mais do que dois títulos. Mas é sobre saber que você faz parte do sistema solar, você não é o sol”, disparou.
“Alguns pilotos são insensatos. Eles ganham os holofotes da mídia e começam a acreditar que são o sol. E você não é. Nenhum de nós é. Somos todos satélites, somos os planetas que giram”, complementou o ácido Toto Wolff.
A Mercedes chegou a cogitar Alonso em duas oportunidades. No segundo semestre de 2014, quando Fernando ainda estava na Ferrari e tinha o maior salário da F1, a equipe alemã lhe ofereceu uma vaga, mas desde que o asturiano reduzisse consideravelmente seus vencimentos. Alonso não somente recusou a proposta como decidiu voltar à McLaren, que teve a Honda como parceira e responsável por boa parte do seu salário, novamente o maior da F1. Mas o projeto McLaren-Honda fracassou de forma retumbante, e a parceria entre a equipe e a montadora se desfez ao fim de 2017, muito por conta do próprio Alonso.
Depois, quando Nico Rosberg surpreendeu o mundo do esporte e decidiu se aposentar somente cinco dias depois de ter conquistado o título mundial de 2016, Alonso chegou a ser cotado como substituto do alemão. Mas Wolff preferiu trazer Valtteri Bottas da Williams e reforçou o motivo pelo qual optou por não ter contratado o bicampeão.
“Ele pode pilotar bem, mas também tem uma personalidade explosiva, como Hamilton. Isso é muito positivo no carro, mas temos de levar em conta que essa questão na combinação com Lewis. Há um nome na história de uma autêntica explosão entre dois pilotos [fazendo menção à rivalidade travada por Hamilton e Alonso em 2007, na McLaren]. Nosso amigo espanhol nos deixou essas cicatrizes”, disse Wolff à época, pouco depois de ter acertado com Bottas, no começo de 2017.