No dia 16 de abril de 1864, o antigo general italiano Giuseppe Garibaldi chegou em Londres rodeado pelos gritos de “Giuseppe! Giuseppe para sempre!” O homem, na casa dos seus cinquenta anos, precisou de cinco horas para realizar o trajeto de menos de quatro quilômetros até a Residência Lancaster — a qual havia sido convidado de honra do duque e da duquesa de Sutherland.
O alvoroço tinha uma explicação: Giuseppe era conhecido pelo nome de “herói do velho e do novo mundo”, um apelido angariado por suas glórias militares no passado. Conhecido por seu nacionalismo, carisma e liderança, o ex-militar trabalhou como uma das figuras influentes no processo de unificação da Itália e chegou até mesmo a lutar na Revolução Farroupilha no Brasil anos mais tarde.
A vida de Giuseppe Garibaldi
(Fonte: Wikimedia Commons)
Nascido em Nizza, cidade que foi da Itália e atualmente pertence à França, em 1807, Giuseppe era filho de marinheiros de Gênova que trabalhavam no principal porto do Reino da Sardenha. Foi por isso que cresceu acostumado a trabalhar como aprendiz e depois como marinheiro em navios comerciais que navegavam no Mediterrâneo e no Mar Negro.
Em uma de suas aventuras marítimas, passou a se interessar pelas ideias políticas reformistas que começavam a se inflamar pela Europa durante o século 19. Em uma viagem para Constantinopla (atual Istambul), na Turquia, em 1833, o jovem italiano foi apresentado aos conceitos de pacifismo, igualitarismo, equidade entre homens e mulheres e amor livre.
A bordo do navio mercante “Clorinda”, Garibaldi decidiu que queria ser um herói e passaria o resto da sua vida tentando mudar o destino de sua nação. Quando retornou à Itália, entrou para o grupo La Giovine Italia (A Jovem Itália), uma sociedade secreta formada por Giuseppe Mazzini para promover a unificação do país.
Participação na Revolução Farroupilha
(Fonte: Wikimedia Commons)
Após uma tentativa frustrada de rebelião em Gênova, Giuseppe Garibaldi se viu obrigado a buscar refúgio em Marselha, onde descobriu que havia sido condenado à morte. Para evitar ser caçado pela Europa, ele continuou a viajar pelo Mediterrâneo utilizando um nome falso, até que entrou em um navio com destino ao Rio de Janeiro em 1836.
Em terras brasileiras, o italiano tentou se manter discreto e começou a comercializar macarrão. Ao mesmo tempo, entretanto, passou a participar da política do país, entrou para a maçonaria e fez amizade com o militar e líder separatista Bento Gonçalves, quem fora nomeado presidente da República do Rio Grande e desejava se separar do Brasil imperial.
Preso por sua rebelião, Gonçalves deu início à Revolução Farroupilha ou Guerra dos Farrapos, conflito que perdurou entre 1835 e 1845 no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Em 1837, Giuseppe obteve uma procuração de seu grande amigo para começar a comandar uma frota de guerra contra a marinha brasileira.
Em entrevista para a BBC, a historiadora Maria Medianeira Padoin ressaltou a importância do italiano no conflito armado. “Por um lado, ele contribuiu com seu conhecimento militar, empregando táticas eficazes de combate na água. Por outro lado, graças à sua personalidade carismática, difundiu os seus ideais de igualdade e de luta pela liberdade”, afirmou.
Tortura e descoberta do amor
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A Revolução Farroupilha rendeu a Giuseppe diversos pontos altos e baixos. Neste meio tempo, o marinheiro foi capturado e torturado, naufragou sua embarcação, mas também conheceu o amor da sua vida Anna Maria Ribeiro da Silva, a revolucionária Anita Garibaldi.
Anita tinha 18 anos quando largou seu marido para se juntar ao exército de Garibaldi em todas as campanhas militares pelo Brasil. Casaram-se em 1842 e, juntos, o casal teve três filhos: Menotti, Teresita e Ricciotti. Em 1841, Garibaldi decidiu largar a guerra brasileira para se estabelecer em Montevidéu, onde existia uma grande comunidade de exilados e imigrantes italianos.
Acostumado a travar batalhas, Garibaldi também se envolveu na guerra civil do Uruguai, um conflito diplomático com intervenção diplomática e militar do Brasil, da França e do Império Britânico. Seu envolvimento no entrave político foi homenageado com o primeiro monumento da guerra civil em Montevidéu sendo dedicado a sua passagem pelo país.
Retorno heroico à Itália
(Fonte: Wikimedia Commons)
Em 1846, o Papa Pio 9 proclamou uma anistia para que os exilados italianos retornassem para casa e Giuseppe Garibaldi enfim estava livre para voltar ao seu país de origem ao lado de família e mais alguns aliados que lutaram ao seu lado na América do Sul.
Entre idas e vindas pelos quatro cantos do planeta, o glorioso estrategista foi mesmo fazer sua fama de herói nacional em 1859. Durante esse período, Garibaldi e o exército de voluntários batizado de “caçadores dos Alpes” saíram vitoriosos de diversas batalhas decisivas na Segunda Guerra da Independência Italiana.
Em 1860, participou da Expedição dos Mil, um batalhão que conquistou todo o Reino das Duas Sicílias, o que causou a dissolução e anexação da região pelo Reino da Sardenha. Posteriormente, isso seria visto como um grande passo para a criação do Reino da Itália.
Em 17 de março de 1861, o rei Victor Emmanuel II proclamou o nascimento de uma nova grande nação e Garibaldi foi consagrado “herói da pátria”. Durante seus 75 anos de vida, ele foi preso nove vezes pela polícia de diferentes países e marcou seu nome na história de todos os lugares por onde passou.
Fonte: Megacurioso