Enquanto o resto do mundo luta para controlar epidemia de covid-19, países insulares no Oceano Pacífico conseguem manter suas populações em segurança ‒ em parte devido às lições aprendidas em crises de saúde anteriores.
Reportagem original: Deutsche Welle
O novo coronavírus se espalhou rápida e sorrateiramente por praticamente todos os cantos do planeta, matando mais de 319 mil pessoas até esta terça-feira (19/05) e forçando outras dezenas de milhões a se refugiarem no isolamento. Mas um punhado de nações foi poupado da crise ‒ e, em sua maioria, são pequenos postos avançados, relativamente subdesenvolvidos, espalhados pelo Oceano Pacífico.
Apenas 15 nações não aparecem na lista da Organização Mundial da Saúde (OMS) de países sem nenhum caso relatado do coronavírus, que já infectou mais de 4,8 milhões de pessoas em todo o mundo. No entanto, é preciso questionar a precisão dos dados de pelo menos três desses países: Coreia do Norte, Lesoto e Turcomenistão, todos fazendo fronteira com países com casos confirmados e altas taxas de mortalidade.
Junto a uma resposta rápida nos estágios iniciais da pandemia, a distância física entre as nações insulares do Pacífico parece ter isolado da crise países como Palau, Tuvalu, Ilhas Marshall, Estados Federados da Micronésia, Kiribati, Nauru, Ilhas Salomão, Tonga e Vanuatu.
“Existem várias razões pelas quais esses Estados foram capazes de evitar infecções, mas a principal é simplesmente o fato de serem abençoados pelo isolamento geográfico”, diz Sheldon Yett, representante do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) em 14 países ao longo do Pacífico.
“Eles também foram muito rápidos em limitar e, em seguida, impor uma proibição total de entrada de aviões e navios, o que significa que foi muito difícil para qualquer pessoa portadora do vírus chegar a esses lugares”, completa Yett,. Segundo ele, a motivação dos governos insulares era muito simples.
“Eles puderam ver o que estava acontecendo em outras partes do mundo; viram no noticiário da TV as ruas de Nova York ou Londres e entenderam o que estava acontecendo na França e na Itália e compreenderam os riscos que enfrentariam se a doença se manifestasse em suas comunidades”, afirma o representante do Unicef. “Então eles foram muito diligentes ao agir para fechar suas fronteiras.”
No entanto, nem todas as pequenas ilhas do Pacífico conseguiram manter a doença afastada. Há vários casos reportados nas Ilhas Fiji, onde reside Yett, mas um grupo significativo de infectados em Guam, que é o foco da região. A grande maioria desses casos ocorreu a bordo do USS Theodore Roosevelt, um porta-aviões que se encontrava atracado até recentemente no porto de Apra, em Guam, depois que mais de 1.150 dos 5.680 tripulantes testaram positivo para o coronavírus. No domingo, a embarcação voltou ao mar e realizou exercícios antes de retornar à ação ‒ embora haja relatos de mais de uma dúzia de novas infecções a bordo.
Yett acredita que os governos do Pacífico também agiram rapidamente, pois ainda têm lembranças recentes de outras doenças que devastaram suas comunidades. No ano passado, a Papua-Nova Guiné enfrentou surtos de malária, tuberculose resistente a antibióticos e dengue, que também foi identificada em vários outros países do Pacífico.
Ação rápida
O pior surto ocorreu em Samoa em agosto do ano passado, quando um passageiro desembarcou de um voo da Nova Zelândia com um caso não diagnosticado de sarampo. A doença se espalhou rapidamente e só foi controlada em janeiro, quando cerca de 5.520 pessoas haviam sido infectadas ‒ quase 3% de toda a população ‒ e outras 83 morreram. Apenas sete dos mortos tinham mais de 15 anos.
Essa vivência faz parte das recentes lembranças dos samoanos, diz Yett, junto a imagens de pessoas que não foram vacinadas contra o sarampo pendurando panos vermelhos fora de suas casas. Algumas adicionavam mensagens, como “Não queremos morrer” e “Ajude-nos!” “Nada concentra a atenção de uma comunidade como um surto que mata muitas de suas crianças”, explica Yett. “As pessoas ficaram perplexas.”
No entanto, isso enfatizou a necessidade de distanciamento social, de fechar escolas e empresas até que o pior terminasse, a necessidade de que as pessoas ficassem em casa, limitassem o contato social e tomassem medidas adicionais de higiene.
“Vivenciamos um período muito difícil com o surto de sarampo, então quando ouvi sobre esse novo vírus que estava afetando particularmente pessoas com problemas pulmonares ou doenças respiratórias crônicas, sabia que tínhamos que agir rapidamente”, diz Leausa Naseri, do Ministério da Saúde de Samoa.
“Começamos a emitir alertas de viagem em 20 de janeiro e cortamos imediatamente a entrada de voos da Nova Zelândia, Austrália, Fiji e da vizinha Samoa Americana”, conta. “Eu temia que, se o vírus chegasse ao nosso país, haveria muitas infecções e esses números explodiriam.”
Além das restrições de viagem, o governo samoano introduziu novos programas educacionais de saúde, frequentemente através de redes sociais, centros comunitários e igrejas, enquanto os navios que trazem bens essenciais às ilhas são obrigados a descarregar sob rígidos regulamentos de quarentena.
Yett explica que se trata de muita sorte o fato de tantas ilhas do Pacífico terem conseguido evitar casos de covid-19, sendo “importante lembrar o quão vulneráveis são muitas dessas comunidades.”
“Diabetes, hipertensão e outras doenças são comuns nas ilhas e esses fatores teriam acentuado muito o surto”, diz o representante do Unicef. “Além disso, as instalações de saúde aqui são geralmente muito limitadas, com apenas uma quantidade mínima necessária de leitos de UTI, de respiradores e de médicos.”
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BSB TIMES