Laços entre Rússia e Irã se fortalecem apesar das sanções: Rumo a um acordo de livre-comércio regional

Seyyed Ebrahim Raisi e Vladimir Putin promovem acordos bilaterais entre Irã e Rússia | Foto: Reprodução

Moscou e Teerã estão se aproximando cada vez mais, apesar das sanções internacionais

A presença de armas iranianas na guerra na Ucrânia é um fato conhecido, porém, desde o motim do Grupo Wagner, as relações entre Rússia e Irã se aprofundaram, e essa maior proximidade pode levar a um acordo regional de livre-comércio.
Logo após a insurreição dos mercenários do Grupo Wagner na Rússia, o presidente Vladimir Putin teve uma conversa telefônica com o presidente iraniano, Ebrahim Raisi. Em 26 de junho, o Kremlin anunciou que Raisi “confirmou seu total apoio à liderança da Federação Russa”.
Dois dias depois, o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas iranianas, Mohammad Bagheri, e o ministro da Defesa russo, Sergey Shoigu, conversaram por telefone. De acordo com o jornal Tehran Times, os temas discutidos incluíram os recentes acontecimentos na Rússia, as relações militares bilaterais e as questões de segurança regional. Bagheri também convidou Shoigu para visitar Teerã.
“O levante na Rússia não é motivo para o Irã se distanciar de Moscou”, afirma Arman Mahmoudian, professor de estudos russos e do Oriente Médio da Universidade da Flórida do Sul.
“Desde a presidência de Mahmoud Ahmadinejad [2005-2013], o Irã tem buscado uma política externa voltada para o Oriente, onde a Rússia desempenha um papel importante. Especialmente após a saída dos Estados Unidos do acordo nuclear com o Irã em 2018, Moscou é considerada pelos linha-duras iranianos como um aliado confiável. Com a invasão russa na Ucrânia, eles veem a oportunidade de se firmar como parceiros da Rússia.”
Mahmoudian antecipa que a guerra na Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro de 2022, se tornará ainda mais brutal com a insurreição do Grupo Wagner, que quase chegou às portas de Moscou. Putin deseja mostrar força aos observadores externos, uma vez que precisa de todo o apoio possível em sua campanha para obrigar Kiev a se render.
Cooperação em meio às sanções americanas
Segundo os Estados Unidos, Moscou tem aprofundado sua cooperação militar com Teerã. Em maio, o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, John Kirby, afirmou que os dois países estão ampliando sua parceria militar de forma sem precedentes. A Rússia demonstra interesse principalmente nos modernos drones de combate iranianos, e já importou mais de 400 deles desde agosto de 2022, o que levou os EUA e a União Europeia a impor sanções ao Irã.
Além disso, no início de junho de 2023, a emissora britânica Sky News divulgou um documento vazado, com 16 páginas, que supostamente comprova o fornecimento de munição Iraniana para a Rússia. O documento teria sido apresentado tanto ao primeiro-ministro ucraniano, Denys Schmyhal, quanto ao ministro britânico das Relações Exteriores, James Cleverly. Prometeram-se investigações caso a veracidade do documento fosse confirmada.
Ao mesmo tempo, o Irã também enfrenta sanções impostas pela Rússia. Ambos os países dependem principalmente da exportação de energia e são considerados concorrentes nos mercados globais. Com as medidas punitivas reduzindo significativamente o número de compradores da Rússia, o país agora está oferecendo petróleo e gás natural a preços consideravelmente mais baixos para os clientes tradicionais do Irã, como China, Índia e Turquia.
O especialista Mahmoudian avalia: “O Irã não vai se afastar da Rússia. No entanto, nessas circunstâncias, ele tenta desempenhar um papel de desescalada em relação ao Ocidente, por exemplo, ao negociar indiretamente com os Estados Unidos.”
De acordo com relatos da mídia, Washington e Teerã estão trabalhando para chegar a um acordo informal sobre o conflito em torno do programa nuclear iraniano, que os americanos pretendem restringir. Segundo o jornal The New York Times, o plano envolveria o Irã limitando seu enriquecimento de urânio a 60% e, acima de tudo, intensificando a colaboração com os inspetores nucleares internacionais. Em troca, os Estados Unidos não imporiam mais sanções econômicas.
Até agora, o Irã tem se beneficiado pouco da expansão planejada de suas relações comerciais com a Rússia, mas Moscou promete que isso mudará com a conclusão de um acordo de livre-comércio entre Rússia, Irã, Armênia, Belarus, Cazaquistão e Quirguistão. Segundo o vice-primeiro-ministro russo, Alexei Overchuk, isso fortalecerá a cooperação em uma região que se estende das fronteiras da Europa Oriental até o oeste da China.
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