‘Livre da pressão das urnas, ditadura ignorou justiça social’, diz historiador — Senado Notícias


O que o Brasil perdeu nos 21 anos da ditadura militar?

As maiores perdas foram na área social. No início da década de 1970, o Brasil da ditadura experimentou o chamado milagre econômico, em que a economia cresceu a níveis superiores a 10% ao ano. Os grandes ganhos econômicos, no entanto, não se refletiram na redução da pobreza e das desigualdades. O avanço que se registrou na área social foi desproporcionalmente pequeno em relação ao crescimento econômico. Apenas a classe alta e a classe média alta se beneficiaram do milagre. Em outras palavras, o crescimento do milagre foi excludente.

Além disso, no início da década de 1980, quando a ditadura militar se aproximava do fim, passamos por uma das piores crises da nossa história, um desastre econômico com redução do produto interno bruto (PIB) e descontrole inflacionário. Os indicadores sociais, que já vinham crescendo muito pouco, desabaram. Os militares devolveram um Brasil pior do aquele país que pegaram. A ditadura, em suma, foi um desastre em termos sociais e retardou o nosso avanço.

 

A área social, então, não foi uma prioridade da ditadura?

Não foi. O foco esteve no desenvolvimento econômico em detrimento do desenvolvimento social. Vejamos, por exemplo, a saúde. Até a Constituição de 1988, a saúde pública esteve ligada ao trabalho formal. Só quem estava empregado conseguia algum acesso à saúde gratuita, por meio do INPS [Instituto Nacional de Previdência Social] e do Inamps [Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social]. As pessoas que não tinham carteira de trabalho estavam excluídas da saúde pública. Esse foi um sistema de saúde vindo da época de Getúlio Vargas no qual os militares preferiram não mexer.

Vejamos, também, a educação. Na ditadura, a educação só melhorou no topo, nas universidades federais. Os ensinos fundamental e médio, por sua vez, pioraram. As décadas de 1960 e 1970 foram um período de transição demográfica no Brasil, com a população crescendo rapidamente. Por essa razão, houve um grande aumento no número de alunos nas escolas públicas, mas sem que houvesse um aumento correspondente no orçamento da educação, que permaneceu praticamente o tempo todo congelado.

Como resultado, no início dos anos 1990, com o Brasil já redemocratizado, o país apresentava indicadores de saúde e educação piores do que os demais países da América Latina.



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