O dia que o Prince esqueceu que era humano

Por Tiago Lucero

No palco da cerimônia de introdução ao Rock and Roll Hall of Fame de 2004, durante uma execução já carregada de peso histórico de “While My Guitar Gently Weeps”, Prince atravessou o véu do ordinário e pisou firme no território do divino. Ali, cercado por lendas como Tom Petty, Steve Winwood, Jeff Lynne e Dhani Harrison, o camaleão de Minneapolis parecia conter-se — até os três minutos e meio. Quando o solo começa, é como se uma descarga elétrica atravessasse a espinha dorsal do rock: Prince ergue sua guitarra vermelha como uma extensão de sua alma e, num improviso que beira a possessão, transforma cada nota em um grito primitivo, sensual e transcendental.

O solo é puro caos orquestrado: bends que choram, runs que queimam, e silêncios estrategicamente cruéis, como se o tempo dobrasse ao seu comando. A plateia, os músicos ao redor — todos parecem lentamente se dar conta de que estão testemunhando algo maior que um tributo: é uma epifania em forma de performance. E, no final, quando Prince joga sua guitarra para cima e simplesmente sai de cena, como quem diz “isso é tudo o que vocês precisam”, fica claro que naquele instante ele não era mais só um artista. Era o próprio espírito do rock, livre, insolente e imortal.

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