Haddad, a quem chamo desde o ano passado de ”novo Fernando” para associá-lo a Collor e FHC, é um pulha social-liberal. Só que as críticas que tem sido feitas ao artigo que ele escreveu pra Folha de São Paulo são despropositadas.
Ele erra ao dizer que a burguesia industrial ”se aliou a Vargas” nos anos 1930. Não foi bem assim. A agência política dos industriais esteve do lado dos cafeicultores e importadores na contra-revolução de 1932. Ela mais se submeteu do que se aliou a Getúlio. Além disso, os industriais se colocaram contra o trabalhismo nos anos 1960, dando apoio ao golpe americanófilo liderado por Castelo Branco.
Outra bola fora é culpar o tal do ”patrimonialismo”, essa monomania repercutida pela USP e que serve apenas para fazer o jogo das elites liberais e conservadoras.
Mas o cerne do texto atinge o alvo: não há burguesia industrial nacional ou com projeto nacional. Essa é uma conclusão que sempre deixou os nacional desenvolvimentistas de cabelo em pé. Alguns chegam a dizer que, caso isto seja verdade, o Brasil estaria inviabilizado como nação.
Bobagem. O que está inviabilizado é o pacto social-democrata que imita a Europa pós-guerra, nada mais.
Fernando Henrique Cardoso, assim como Florestan Fernandes e Caio Prado Júnior, estavam corretos no diagnóstico sobre a burguesia brasileira. É um juízo que tem mesmo de ser divulgado, repetido à exaustão, dado que as forças populares continuam caindo no erro estratégico de tentarem compor com uma elite que nada mais é e nada mais deseja ser do que elo do imperialismo.
O problema não está no diagnóstico, que é exato, por mais que incomode os nacional-desenvolvimentistas. O debate tem de ser a solução pro imbróglio.
Até agora, ninguém apresentou sugestão política melhor do que a de Caio Prado Júnior, que via no Estado o agente político necessário para quebrar as amarras do Imperialismo e construir um projeto nacional.
Ao apostar numa inexistente revolução proletária mundial, Florestan caía na inação e abria espaço aos trotskistas e ao identitarismo pós-moderno, ambos aliados do capitalismo financeiro hodierno do qual os esquerdeiros se tornaram pau pra toda obra.
Quanto a Fernando Henrique Cardoso, vimos no que se tornou, a vanguarda do novo vira-latismo pátrio, que nos tornaria cachorrinhos felizes por comer as migalhas que os donos do mundo nos atirassem das sobras da mesa de jantar.
Só resta mesmo a força e a autoridade de um Estado central capaz de dobrar a vontade dos agentes sociais e econômicos apátridas.
É isso que assusta os nacional desenvolvimentistas, que desse modo se tornam parecidos com o autor do artigo que pretendem criticar. Haddad deu uma cutucada no projeto getulista dos anos 1940 ao escrever que o guru dos industriais era um fascista, e acrescentando que o projeto econômico daqueles anos era indissociável de um projeto político não-liberal. Enfim, implicitamente o novo Fernando estabelece um veto moral ao getulismo, que seria para ele um tipo de fascismo.
Chamar o projeto getulista de fascista é o sinal que Haddad nos dá para que identifiquemos seu verdadeiro inimigo político. Ele sabe que o nacional desenvolvimentismo não é seu real adversário. Muito menos o social-liberalismo de Fernando Henrique Cardoso, ou o troskismo e o cosmopolitismo esquerdalha e sua militância pós-moderna.
O verdadeiro inimigo de gente como o ex-prefeito de São Paulo é aquele grupo político que, herdeiro de Getúlio, fortaleça o Estado e o prepare para que, com mão forte, inverta o sentido da colonização.
BSBTimes
Por André Luiz Dos Reis/Portal Disparada