Diante da explosão do conflito entre o Hamas e Israel, explode também uma gigantesca onda de antissemitismo na esquerda, e isso não é sem um porquê.
Por Tiago Lucero*
Primeiramente: isso aqui não é um trabalho científico, mas tem sim uma profunda base em conhecimentos sociológicos, antropológicos e históricos.
É um recorte mínimo (muito mínimo mesmo) de um fenômeno que carece (urgentemente) de estudos mais aprofundados (apesar de duvidar muito que isso ocorra diante o panorama atual das universidades e das ciências sociais).
De certo há sim uma tendência (me parece evidente e notória, ainda mais diante dos últimos acontecimentos) de pessoas de orientação política (e de “pensamento”) à esquerda de desenvolverem antissemitismo. Obviamente ele será sempre “disfarçado”, “mascarado” e certamente negado (nem sempre), mas é fato.
Para tentar oferecer uma explicação para isso vou propor um paralelo entre dois pontos nefrálgicos que, em minha análise, determinam o antissemitismo da esquerda:
Ponto 1: a estrutura de pensamento marxista
Constante inafastável na esquerda, esta estrutura é determinada por inúmeras proposições orientadores do pensamento (nem tantas assim) que balizam as respostas “lógicas” destas pessoas diante de fatos dados.
Destas a ideia de que a riqueza acumulada (não usarei o termo marxista “capital”) decorre diretamente e somente da expropriação do trabalho do trabalhador é central.
Em uma estrutura de pensamento socialista, marxista, esquerdista esta ideia é inarredável, indiscutível, improrrogável (dogma?): se alguém tem riqueza acumulada esse alguém “usurpou” isso de outrem.
Assim, cabe ao militante “iluminado” pelo pensamento socialista, ao mínimo, denunciar, quando não deve se manifestar, agir, “lutar” (e esse lutar incluí sim inclusive atos terroristas, mas isso deixo para outro artigo) afim de levar aos “expurgados” a libertadora verdade do socialismo.
O conceito todo é mais complexo, está incluso em um intricado jogo pseudo-lógico construído primeiramente pelo Karl e ampliado por pseudo-intelectuais durante um século e meio. Mas por aqui basta para entender o que vou propor.
Observação: entendendo-se que nas elucubrações mais recentes da esquerda este “trabalhador” não necessita necessariamente trabalhar.
Ponto 2: a resposta antropológica do povo judeu ao exílio, ou como os judeus se mantiveram como um povo por milênios sem uma terra.
A história do povo hebreu é permeada por momentos de escravidão forçada e exílio. O mais longo, conhecido e último foi o exílio forçado em 70 d.C. quando os romanos os expulsaram de suas terras e ainda, como ato de despeito, as entregaram aos filisteus (“Palestina” vem de “Filístia” – terra dos filisteus, e foi assim rebatizada pelos Romanos como ato máximo de sua vingança contra os judeus).
Nesses quase dois mil anos que separam o momento da expulsão de sua terra até o repatriamento promovido com a criação do Estado de Israel após os trágicos acontecimentos da Segunda Guerra Mundial, os judeus tiveram de desenvolver uma série de estratégias para que conseguissem sobreviver conquanto Nação a despeito de não terem uma terra.
A história nos mostra que povos na mesma situação tenderam a se dispersar, serem absorvidos por outras culturas, e desaparecerem. Mas os israelitas optaram por manter-se como um povo independente da expropriação de sua terra natal.
Vários são os motivos que os permitiram fazer isso, mas sem dúvida um ponto central foi o desenvolvimento de estratégias de geração, proliferação (dentre eles primeiramente, claro) e manutenção da riqueza.
Vejam bem, a riqueza de um povo normalmente, se não vêm diretamente, deriva da base material que lhes é proporcionada pela sua terra. Ao mínimo, será lá onde serão levadas suas riquezas para serem protegidas.
Os judeus não tiveram como operar nenhuma estratégia de riqueza com base em uma terra por dois milênios.
A resposta sistêmica foi o desenvolvimento de um profundo conhecimento e estratégias de ação acerca da riqueza, em especial da moeda, seus lastros e dos processos comerciais, que são o meio de fluxo da moeda.
Isso lhes deu uma base material forte e ao mesmo tempo difusa, o que os permitiu não dependerem de processos de produção, acumulação e reprodução de riquezas de outras nações.
Pelo contrário, outras nações se utilizaram e, em muitos casos, prevaleceram a partir dessa base sistêmica de fluxo de riqueza desenvolvido por eles (não, não vou citar).
Nisso, a pobreza foi praticamente erradicada pelo povo judeu e a prosperidade se tornou constante e evidente.
Pronto, agora ao paralelo:
Se não lhes saltou aos olhos a correlação que me parece evidente e explicativa do antissemitismo da esquerda vou explicar em poucas linhas:
Aqueles com pensamento e ação orientado pela estrutura de pensamento de origem marxista (toda esquerda) identificarão imediatamente nos judeus como aqueles que “expurgaram” o trabalho “alheio”.
Afinal dentro de sua lógica simplória e hermética somente pode haver riqueza acumulada se esta foi retirada de alguém.
Por conseguinte, os judeus devem ter “usurpado a mais-valia alheia”.
[…] Porque socialistas, marxistas, esquerdistas tendem a serem antissemitas? […]
[…] Porque socialistas, marxistas, esquerdistas tendem a serem antissemitas? […]