Professores defendem melhorias na educação em audiência da CLDF

Autor da sessão solene, o deputado Leandro Grass destacou que o DF pode ser referência nacional em educação pública e salientou o empenho dos professores durante a pandemia

Mario Espinheira – Agência CLDF

As dificuldades sociais dos alunos e a falta de condições de trabalho no ensino público foram destaques na audiência pública da Câmara Legislativa (CLDF) em homenagem ao Dia do Professor, realizada nesta sexta-feira (15). Autor da iniciativa, o deputado Leandro Grass (Rede) defendeu a mobilização dos profissionais da educação como única forma de melhorar o ensino no Distrito Federal. “A gente precisa de um governo que coloque a educação como eixo central de todas as políticas públicas, que intersetorialize a educação com a cultura, o meio ambiente, a assistência social, a saúde, e que faça da escola um lugar sagrado de encontro da comunidade”, afirmou o distrital.

Ainda de acordo com Leandro Grass, o DF pode ser referência nacional em educação, mas que, para tanto, é preciso haver mudanças nas políticas públicas. Ele também salientou o empenho dos professores durante a pandemia que, segundo ele, cumpriram uma missão para além do pedagógico. “Eles transformaram as escolas em núcleos da vida, efetivando vários direitos em momento de aumento de vulnerabilidade”, frisou. O deputado também defendeu o estímulo às pesquisas e formação dos profissionais de educação, bem como a construção de mais escolas no DF.

A presidente da Comissão de Educação, Saúde e Cultura da CLDF, Arlete Sampaio (PT), parabenizou os professores, destacando que o contexto político é de desvalorização do ensino. “Estamos vivendo um momento complexo da vida no país e na nossa cidade, em que a educação é vista como adversária, com tantos projetos anti-educação, como a Escola Sem Partido”, ressaltou. Ela também disse que, para além das dificuldades comuns, há o desafio de enfrentar a insegurança nas escolas devido à pandemia do Coronavírus.

A professora Cátia Maria Marques, representando a educação infantil, criticou a pressão política e ideológica no ensino. “Entendemos que a busca por uma educação pública, gratuita e de qualidade para todos e todas não flerta com discursos de ódio ou ideologia anti-democrática”. Para ela, educação tem o desafio de estimular o pensamento crítico e deve ter como referência os direitos humanos. “Seguiremos avante na luta contra qualquer tipo de cerceamento da nossa liberdade de ensinar”, reforçou.

Representando os anos finais de ensino, a professora Elisa Maria de Jesus destacou que a educação tem o poder de transformar a realidade dos alunos. “E é uma honra, para mim, fazer parte desse processo na vida das pessoas. A gente acaba realmente mudando a vida de muita gente. Depende de nós mudar esse mundo e, nos dias atuais, a luta tem sido mais árdua”.

O empobrecimento dos alunos, principalmente por causa da pandemia, foi destacado pela professora Margarete Dombroski. “O que me entristece muito é que, nesse período, muitos alunos vão para a escola sem almoçar. Fico triste com tantos alunos esperando o horário do lanche”. Ela acredita que a educação pode transformar a realidade, mas que é preciso haver assistência social com, ao menos, distribuição de cestas básicas às famílias mais vulneráveis. “Vamos juntos semear conhecimento como uma árvore e ao final colheremos os frutos dessa parceria de sucesso com muitas alegrias e muitas descobertas”, afirmou.

O professor do ensino médio Dreithe Thiago de Carvalho criticou a “falta de valorização e de políticas públicas que apoiem a educação e valorizem o professor”. Para ele, não há interesse político em oferecer aos cidadãos boa formação intelectual e crítica. “Educação pública anda precária, sucateada, esquecida, e a gente precisa mudar esse quadro”, salientou. Ele acredita que os professores representam a “resistência” e a “ascensão” social: “Sem nós o país não tem futuro e precisamos ocupar espaço e dar rumo à sociedade”.

Responsável pela Educação de Jovens e Adultos (EJA) a distância, a professora Indira Rehem destacou as dificuldades da modalidade de ensino, como a defasagem tecnológica e o fato de os estudantes não contarem com merenda e o Passe Livre Estudantil. “A EJA a distância é o último lampejo de esperança para aquele estudante que já foi excluído de todo o processo educacional. Ele vai com o sonho de concluir a educação”, enfatizou. Para ela, é importante considerar a realidade e vivências do aluno na elaboração das metodologias.

Com o desafio de formar e capacitar professores da Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UNB), Francisco Thiago Silva defendeu a “parceria” entre a educação básica e a superior. “Vivemos um momento de negação da ciência, do conhecimento, e o ato de ensinar tem sido, por si só, um ato de coragem”, afirmou. Ele destacou que a UNB é “uma das universidades mais elitizadas do mundo” e que é preciso dar acesso aos profissionais da educação. “Eu escancaro as portas do mestrado e doutorado, eu quero mais professores da educação básica fazendo mestrado e doutorado, mas luto também para a Secretaria de Educação criar políticas públicas de valorização salarial”, afirmou.

Para ele, além de melhorar as condições de trabalho dos professores, é preciso desenvolver uma educação que considere a realidade brasileira, em especial as desigualdades. “O momento é de celebrar nosso dia, mas de conscientizar politicamente. O ato de ensinar é político, de heroísmo, que não pode ser esquecido e nós precisamos encontrar sentido naquilo que fazemos. Quem está no poder não quer que a educação de qualidade transforme a vida da classe trabalhadora que é de fato quem ocupa a escola pública”, ressaltou.

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