Dados preliminares mostraram que imunizante já usado no país também reduziu em 74% as internações pela doença; pesquisa envolve 430 voluntários
Por Jean Laurindo, para o Nsctotal
Um estudo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) mostrou que voluntários vacinados com a vacina tríplice viral, que previne contra sarampo, caxumba e rubéola, tiveram redução de 54% na possibilidade de ter sintomas de Covid-19. O imunizante também mostrou diminuir em 74% as chances de internação por conta da doença.
Os resultados preliminares integram o estudo do Centro de Pesquisa do Hospital Universitário da UFSC, que tem apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação de Santa Catarina (Fapesc).
A tríplice viral é uma vacina atenuada – usa técnica com micro-organismos vivos, mas enfraquecidos. Estudos têm mostrado que esse imunizante pode apresentar resposta imunológica a vários outros agentes. Desde julho, pesquisadores de SC estudam o possível efeito da tríplice viral na prevenção de infecção, sintomas e internações por Covid-19. Os primeiros resultados foram apresentados em outubro e já indicavam eficácia promissora.
A pesquisa envolve 430 voluntários da área da saúde. Uma parte recebe a tríplice viral e outra, placebo – substância sem efeito. O estudo ainda está em andamento com avaliação clínica e exames PCR dos participantes, mas a previsão é de que seja concluído em março. Os dados preliminares apresentados fazem parte de uma nota prévia de “análise interina dos dados” antecipada pelos pesquisadores.
Segundo o professor Edison Natal Fedrizzi, coordenador do estudo, uma “análise interina” ocorre quando já é possível verificar a eficácia de uma substância em relação ao placebo.
– Não é a análise final. No decorrer do estudo, vamos fazendo algumas análises para avaliar possíveis efeitos colaterais e a eficácia do tratamento. Quando a gente tem um resultado significante, que está demonstrando a realidade, já começamos a divulgar porque provavelmente ele vai se manter ou melhorar até o final do estudo – explicou, em material de divulgação da Fapesc.
Intenção não é substituir vacinas contra Covid-19
Os pesquisadores afirmam que a ideia do estudo não é substituir as vacinas específicas contra Covid-19, que recentemente começaram a ser aplicadas no Brasil. A tríplice viral já faz parte do calendário de vacinação do Sistema Único de Saúde (SUS) e poderia ser mais uma aliada na estratégia de vacinação.
Um trecho da nota sugere que, se os resultados do estudo forem confirmados, a tríplice viral poderia ser utilizada com grupos não prioritários enquanto não há vacinas suficientes para atender esse público. “Estes resultados são bastante animadores, pois trata-se de uma vacina não específica para o novo coronavírus, mas que mostrou resultados de eficácia semelhante a algumas vacinas específicas divulgados recentemente. Em hipótese alguma a vacina tríplice viral irá substituir a vacina específica. No entanto, seria muito útil se fosse possível vacinar os grupos não prioritários com esta vacina até que tenhamos a disponibilidade de vacinar toda a população com as novas vacinas contra a Covid-19”, afirma a nota.
Duração da proteção ainda é avaliada
O estudo da UFSC ainda avalia por quanto tempo a tríplice viral protege contra o novo coronavírus. A hipótese é de que seja de três a seis meses, no caso de uma dose, ou de oito meses a um ano, quando aplicadas duas doses.
Vale frisar que para proteger contra o novo coronavírus, seria necessário tomar uma nova dose da tríplice viral. Pessoas que já foram vacinadas com o imunizante na infância, por exemplo, não possuem a possível proteção contra sintomas e internações pelo novo coronavírus. Isso porque o mecanismo de ação neste caso é diferente.
“Estamos usando um efeito deste tipo de vacina que é a primeira fase da imunidade, a imunidade nata. A imunidade de longo prazo é chamada de humoral, associada à produção dos anticorpos específicos contra o microorganismo alvo da vacina. A humoral produz anticorpos. A celular é a produção de células de defesa do nosso organismo no primeiro combate frente a um organismo agressor. É uma proteção contra qualquer infeção”, informou o pesquisador responsável pelo estudo.
A pesquisa também tem apoio do laboratório FioCruz – Bio-Manguinhos, da Secretaria Estadual de Saúde e da Secretaria Municipal de Saúde de Florianópolis.