Variante delta: Planaltina segue na “normalidade”

Apesar dos números, a nova modificação do vírus não afetou diretamente a vida de trabalhadores informais, empresários e moradores da região

Na coletiva de imprensa realizada na última segunda-feira (9), o secretário de Saúde Osnei Okumoto informou que o DF possui 75 casos confirmados pela variante delta do coronavírus. Planaltina, lidera o ranking com 21 infecções, 12 a mais do que a Ceilândia e o Plano Piloto, que dividem a segunda colocação. A nova mutação do vírus tem uma probabilidade maior de infectar aqueles que já estão vacinados e pode desencadear problemas de saúde mais graves do que as outras versões do covid-19.

Apesar dos perigos, Maria da Conceição, de 56 anos, passa o dia vendendo águas e salgadinhos na frente de um ponto de vacinação para se sustentar. A vendedora possui problemas de saúde que causam, entre outros sintomas, tremores nas mãos . “Eu estou procurando atendimento há meses aqui, [apontava para o Hospital Regional de Planaltina] mas até agora nada”, conta.

Maria diz que vende os seus produtos para se sustentar, segundo ela, a sua situação ficou vulnerável após a morte dos pais. Perguntada sobre o seu sentimento de segurança ao comerciar próximos a lugares com aglomeração de hospitais e de centros de imunização, a ambulante informou que aquela prática perigosa era a sua única alternativa de sobrevivência: “ Eu tô vendendo aqui porque eu preciso, eu não tenho mais pai, não tenho mais mãe e moro de favor na casa da irmã. Então vou ficar aqui até me aposentar.”

Apesar dos problemas de saúde, Conceição não pode receber o benefício da aposentadoria, já que possui apenas 11 anos de contribuição. A vendedora disse que tomava os remédios para as suas doenças até 2017, mas interrompeu o seu tratamento. “Eu fico aqui tremendo e ninguém vem aqui me dar um remédio, eu fico aqui morrendo de dor”, afirma. Apesar da circulação da nova variante, a informal diz que as vendas perto do centro de vacinação estão bem proveitosas: “Vendi todo o meu carrinho de água. Graças a Deus”.

Segundo a Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan), em 2020, o Distrito Federal contabilizou a população estimada de 3.055.149 habitantes. Já a região administrativa de Planaltina, possuía 196.686 moradores, 6,43% do total do DF. Porém, mesmo representando menos de um décimo dos residentes da capital, 28% dos casos confirmados da variante delta foram confirmados na cidade.

O primeiro dia de vacinação da população que possui 25 a 30 anos contou com largas filas na frente do Centro Olímpico e Paralímpico de Planaltina. Para Flávia Maciel, 25, a espera pela vacinação reservou bastante expectativa e medo das reações adversas. “ Tenho aquela perspectiva negativa. Aliás, acho que todos têm, mas acho que isso irá diminuir o número de óbitos e de mudar o cenário dessa pandemia que paralisou o mundo todo”, afirma.

Perguntada sobre a sua percepção sobre os altos números da variante delta, a jovem disse que não tinha sido informada pelos canais de informação, mas reiterou o cuidado que as pessoas devem ter após se vacinar: “A população deve se conscientizar e se precaver com as medidas impostas, como o uso de máscaras e de álcool nas mãos.”

Jornal de Brasília tentou contato com membros da Secretaria de Saúde (SES-DF), mas não foi respondido pela pasta até o fechamento desta edição.

Empresários não sentem mudanças

No Setor Tradicional, zona central da cidade histórica de 165 anos, a empresária e técnica de enfermagem Hosana de Carvalho, de 39 anos, diz que a frequência de clientes no seu estabelecimento não se modificou durante os primeiros casos confirmados da nova variante. Dona da sorveteria e parque “Hakunna Matata”, que mistura a venda de sorvetes com um espaço próprio para a diversão de crianças. O local segue à risca todas as formas de segurança, dispondo de álcool, luvas de proteção e avisos com regras sanitárias espalhados em todo o comércio.

Hosana, que recentemente dividia a rotina sendo técnica em enfermagem no Hospital Brasília e por isso foi imunizada no início da campanha de vacinação com a Coronavac, diz que espera que a demanda de clientes aumente depois da imunização total da população planaltinense e da volta às aulas presenciais dos estudantes de escola pública. “Acho que pode dar uma melhorada, mas apesar de tudo, aqui está tendo uma grande movimentação, principalmente nos finais de semana. Mas eu tento ao máximo manter a limpeza das mesas, todas elas têm álcool e gel”.

Mãe de dois filhos pequenos que estudam presencialmente em uma escola particular de Planaltina, a empresária diz que toma todos os cuidados junto à família, mas não teme a contaminação pela nova variante: “Particularmente, eu nunca tive medo. Eu sou profissional da saúde mas eu nunca tive medo”.

Hosana diz que perdeu o sogro e amigos próximos por complicações da covid-19, mas alerta sobre as consequências psicológicas que o tempo de distanciamento social podem acarretar. “Quando eu trabalhei no hospital, apareciam muitas crianças e adolescentes tendo crises de ansiedade, principalmente adolescentes. O ser humano não nasceu para ficar sozinho, aí veio essa pandemia e trancou todo mundo em casa”, conta a dona da sorveteria.

Gabriel de Sousa, Jornal de Brasília

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