Visita de Lula à Favela do Moinho foi articulada com ONG ligada ao PCC

Lula e Janja andam tranquilamente em territorio controlado pelo PCC. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Entidade que intermediou agenda presidencial já foi usada como depósito de drogas; presidente da associação é irmã de traficante preso

A visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e da primeira-dama Janja à Favela do Moinho, em São Paulo, foi articulada com uma associação comunitária presidida por uma mulher condenada por homicídio e com laços diretos com o Primeiro Comando da Capital (PCC). Segundo documentos e denúncias do Ministério Público de São Paulo (MP-SP), a ONG em questão já foi usada para armazenar drogas do grupo criminoso, e a própria líder da entidade, Alessandra Moja Cunha, é irmã de Leonardo Monteiro Moja, conhecido como “Léo do Moinho”, um dos chefes do tráfico local preso em 2024.

A Associação da Comunidade do Moinho, presidida por Alessandra, foi o principal elo entre o governo federal e a favela para viabilizar a agenda presidencial. O encontro foi precedido por reuniões presenciais do ministro Márcio Macêdo (Secretaria-Geral da Presidência) com lideranças da associação, no mesmo endereço onde, em agosto de 2023, a Polícia Civil apreendeu drogas em uma operação contra o PCC. No local foram encontrados tijolos de cocaína, crack e maconha.

Apesar da gravidade das conexões, o governo defendeu a interlocução com a associação, alegando tratar-se de uma “liderança comunitária reconhecida pelos moradores”. A Secretaria de Comunicação (Secom) e o próprio ministro Márcio Macêdo alegaram que a pauta das reuniões era exclusivamente habitacional: a realocação das cerca de 900 famílias que vivem na área, pertencente à União e destinada à criação de um parque urbano.

Histórico da ONG e vínculos com o crime
Segundo denúncias do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP-SP, a Favela do Moinho é controlada pelo PCC. O relatório aponta que a família Moja — incluindo Alessandra, Leonardo (“Léo do Moinho”) e outros irmãos — transformou a comunidade em uma base de distribuição de entorpecentes. Ainda conforme o MP, o tráfico na região utiliza a ausência do Estado para consolidar o poder criminoso e coagir moradores, inclusive os que aceitam programas de realocação habitacional.

A associação presidida por Alessandra aparece registrada no mesmo endereço onde ocorreu a apreensão de drogas. Ela mesma já foi condenada por homicídio e tentativa de homicídio, e sua filha, Yasmin Moja, também representou a ONG em reuniões com representantes do governo.

O caso mais recente foi documentado em maio, quando a própria Alessandra postou vídeos de reuniões com representantes do governo federal, entre eles Kelli Mafort, número dois da pasta de Márcio Macêdo. Participaram ainda integrantes dos ministérios dos Direitos Humanos, das Cidades, da Gestão e Inovação em Serviços Públicos e da Justiça. Parlamentares do PT e PSOL também estiveram presentes.

Oposição denuncia irresponsabilidade institucional
Nos bastidores, a repercussão do caso levantou críticas pesadas à segurança institucional da Presidência e à escolha de interlocutores com histórico criminal. Apesar das explicações oficiais, a visita foi vista como um risco à integridade do próprio presidente da República, que entrou em uma região notoriamente controlada pelo crime organizado.

A Secom e o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) garantem que não houve qualquer falha de protocolo. Segundo nota oficial, “a segurança do presidente, da primeira-dama e de toda a comitiva foi conduzida de forma rigorosa pelos órgãos competentes”.

Ainda assim, o episódio reacende a polêmica sobre a proximidade entre o governo petista e movimentos sociais com ligações suspeitas. Para membros da oposição, a interlocução com uma entidade presidida por uma condenada e associada ao PCC ultrapassa os limites da política de inclusão social e flerta com a irresponsabilidade institucional.

Lula defende política de realocação e nega riscos
Durante a visita à favela, Lula anunciou o acordo de realocação das famílias e prometeu que nenhuma casa será demolida até que todos os moradores estejam reassentados. O governo federal vai custear até R$ 180 mil por família, com complemento de R$ 70 mil do governo estadual, para a compra de imóveis.

“O parque será feito, mas só depois que todos tiverem uma casa garantida. Por mais bonito que seja um parque, ele não pode ser feito às custas do ser humano”, afirmou o presidente no evento, diante de faixas com os dizeres: “Obrigado, Lula”.

O presidente não comentou diretamente as denúncias envolvendo a associação que intermediou sua visita, tampouco as ligações da entidade com o tráfico.

Desdobramentos e apurações
Desde novembro de 2024, representantes do governo se reuniram ao menos cinco vezes com membros da associação. O MP-SP já havia alertado para o domínio do PCC na região e os riscos de cooptação das políticas públicas locais.

A denúncia do Gaeco é clara: “A família Moja se aproveitou da desorganização e ausência do Estado naquela região para instalar um ambiente de várias práticas criminosas […] inclusive incitando movimentos de subversão contra ações policiais.”

Resta saber se a revelação desse vínculo vai gerar consequências políticas mais amplas para a Secretaria-Geral da Presidência e se a oposição no Congresso vai pressionar por investigações mais aprofundadas.

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