Documentos confidenciais revelam tentativa de ocultação de crise financeira nos Correios, com prejuízo estimado em quase R$ 1 bilhão nos primeiros meses de 2024.
Documentos confidenciais obtidos com exclusividade pelo Mais Brasília mostram que os Correios – Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – estão enfrentando uma grave crise financeira. Somente nos três primeiros meses de 2024, a empresa acumulou um prejuízo de aproximadamente R$ 800 milhões.
De acordo com uma ata de reunião datada de 30 de abril, o balancete de “Desempenho Econômico-Financeiro do 1º Trimestre de 2024” foi colocado sob sigilo, com informações classificadas como de acesso restrito. Fontes anônimas informaram que esta é a primeira vez que a empresa, com mais de 90 mil funcionários, esconde seus resultados financeiros dessa maneira para tentar ocultar a crise enfrentada.
“Isso é para esconder o rombo de R$ 800 milhões de janeiro a março de 2024. Isso está deixando todos os empregados dos Correios aflitos. E a área financeira fez uma previsão que até o final do ano, caso nada seja feito, o rombo vai ser de R$ 3,5 bilhões”, disse uma das fontes. No ano passado, o prejuízo operacional foi de R$ 1,5 bilhão, e há temores de que a empresa possa quebrar até o final do ano se a situação persistir.
Além dos problemas econômicos, a atual gestão dos Correios enfrentou pesadas acusações na Justiça do Trabalho em abril deste ano. A empresa foi condenada a pagar indenizações por danos morais a advogados que desenvolveram Síndrome de Burnout devido ao excesso de trabalho. Em um dos casos, a empresa foi condenada a pagar R$ 200 mil a um advogado que teve que lidar com mais de 2 mil processos, situação que agravou seu estado de saúde.
Após a publicação da reportagem, a assessoria de imprensa dos Correios negou que o balanço tenha sido colocado em sigilo para “esconder informação”, alegando que a medida é de praxe até a avaliação pelo Conselho de Administração da empresa. A assessoria afirmou que “não existe sigilo para informações que são públicas por força de legislação, como é o caso das demonstrações financeiras.”
Os Correios destacaram que, em 2023, alcançaram todos os requisitos de transparência avaliados pela Controladoria-Geral da União (CGU) e melhoraram seus indicadores econômico-financeiros em comparação com 2022. A expectativa é de um resultado positivo de R$ 150 milhões para 2024, apesar das dificuldades enfrentadas no primeiro trimestre.
Relembrando o Caso Trabalhista
A Justiça do Trabalho condenou os Correios a indenizar um advogado que desenvolveu Síndrome de Burnout devido ao excesso de trabalho. O juiz José Antônio Ribeiro de Oliveira Silva, do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região (TRT15), determinou que a empresa pague uma pensão temporária ao advogado, correspondente aos meses de afastamento. O Ministério Público do Trabalho (MPT) foi acionado para investigar a sobrecarga de trabalho e seus efeitos sobre os demais empregados da empresa.
O advogado Muriel Carvalho Garcia Leal, afetado pela síndrome, destacou os graves danos causados pela falta de apoio da empresa. “O Burnout avassala a cabeça da pessoa. Eu me senti e fiquei incapacitado. Ainda frequento psiquiatra e tomo remédio todo dia desde o meu afastamento”, explicou.
Os Correios informaram que o caso está sendo tratado em âmbito judicial.
