Audiência pública debate inclusão educacional da população trans


Em alusão ao Dia da Visibilidade Trans, celebrado anualmente em 29 de janeiro, a Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) debateu, na manhã desta quarta-feira (5/2), políticas afirmativas para superar a exclusão da população trans na cidade. A iniciativa do deputado Fábio Felix (Psol) reuniu especialistas e autoridades para discutir os desafios de acesso a emprego e educação dessa comunidade, além do combate a violência, discriminação e marginzalização.

No início da audiência pública, Felix destacou avanços de políticas públicas no DF direcionadas a comunidade LGBTQIA+, como a aprovação da Lei 6.503/20, que garante o direito de utilização do nome social em concursos públicos, e da Lei Victoria Jugnet, que assegura o uso do nome social em atestados de óbito, lápides e cerimônias fúnebres. “A presença do mandato, da sociedade civil e dos movimentos sociais foi fundamental para que tivéssemos esses avanços”, frisou o parlamentar.

Apesar das conquistas, o distrital enfatizou a necessidade de mais medidas para ampliar a inclusão da comunidade trans e superar dificuldades como a baixa empregabilidade. “Temos um projeto de lei tramitando na Casa que garante cotas obrigatórias para pessoas trans em todas as empresas que contratam com o poder público. Esperamos o apoio da comunidade LGBT como um todo, mas especialmente do movimento trans, para que esse projeto seja aprovado”, frisou Felix.

Ações afirmativas

Participando remotamente, a representante da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) e pró-reitora de Assuntos Estudantis e Ações Afirmativas da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Joyce Alves, frisou a importância de ações afirmativas a favor da comunidade trans em prática na instituição desde que assumiu o cargo em 2021.

“De 2021 para cá, começamos a implementar na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, que é considerada conservadora, campanhas de prevenção a violência. Em uma dessas campanhas fazemos a mobilização todo mês de junho (Mês do Orgulho), com atividades científicas, acadêmicas, culturais e artísticas em torno da pauta LGBTQIA+. Fazemos essas atividades de forma mobilizada em junho, mas para reverberar durante o ano todo”, citou Joyce Alves.

A representante da Antra também destacou outras ações da UFRRJ para promover a diversidade e o combate à LGBTfobia, ao racismo e ao capacitismo, como a elaboração do curso “Universidade e Inclusão”, voltado para pessoas com deficiência, e oficinas de letramento de raça, gênero e sexualidade para guardas universitários e servidores da instituição.

“Temos lutado, sobretudo, a partir de três eixos que são muito caros para nós: o direito à educação, à saúde e a empregabilidade. As cotas são muito importantes para nós porque abrem portas e podem garantir ou facilitar a empregabilidade de uma população que é absolutamente marginalizada”, ressaltou Joyce.

Rozana Naves, reitora da Universidade de Brasília (UnB), também citou ações afirmativas da instituição, destacando a aprovação das cotas trans, em outubro do ano passado. Outras medidas citadas pela reitora da UnB foram a resolução que aprovou o uso do nome social em registros acadêmicos, a criação da Diretoria da Diversidade e projetos de extensão dedicados a impulsionar o debate a respeito da diversidade na comunidade acadêmica.

“O Conselho de Ensino Pesquisa Intenção aprovou a reserva de 2% das vagas para pessoas trans em todos os cursos de graduação, o que representa uma capilarização também em termos de área de conhecimento. Agora, queremos contar com as associações e os movimentos organizados dessa comunidade para que possamos compor a comissão que vai tratar da implementação dessas cotas ao longo do ano de 2025, já para ingresso em 2026”, explicou Rosa Naves.

Ausência de dados

Segundo o coordenador do Instituto de Transmasculinidades do Distrito Federal, Kaleb Giulia Salgado, a ausência de dados a respeito da população transmasculina brasileira é um problema central da pauta de visibilidade da comunidade trans. A falta de informação dificulta a compreensão da violência estrutural dessa população, tanto na educação básica quanto em casos de transfeminicídio, suicídio estrutural e discriminação por raça e classe. “São fatores que nos impedem de estudar, trabalhar e mostrar a nossa potência. A violência nos desumaniza em um nível que viramos o inimigo número um da extrema direita e do conservadorismo.”

Salgado apontou, ainda, dados do Mapeamento Educacional das Transmasculinidades no Brasil, realizado em 2023 pelo Instituto Brasileiro de Transmasculinidades (Ibrat), que mostrou que cerca de 85,7% de pessoas transmasculinas no país já tentaram cometer suícidio. No contexto educacional, 34,7% dos participantes do estudo sofreram violência dos docentes, 42,6% afirmam ter sofrido violência de outros estudantes e 24,9% em relação aos conteúdos didáticos.

Os resultados da pesquisa mostraram, também, que 88,7% dos participantes adquiriram informações a respeito de gênero e sexualidade pela internet e 63,8% por pessoas próximas. Na avaliação de Salgado, essas informações evidenciam a demanda de maior abordagem do tema no ambiente educacional, em particular no ensino superior.

“Percebemos que a nossa comunidade é expulsa do espaço educacional e enfrenta diversos desafios para chegar à escola e à universidade. No final, quando chegamos nessa instituição, ainda não tem nada que fale sobre nós, não há conteúdo programático”, frisou Salgado.



Source link

website average bounce rate

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui