CLDF terá grupo de trabalho para acompanhar projeto de reforma do Teatro Nacional
Um dos ícones da arquitetura de Brasília e principal equipamento cultural da Capital, o Teatro Nacional Claudio Santoro está fechado há uma década. A reforma do espaço foi iniciada apenas em 2023, começando pela Sala Martins Pena. O projeto de restauro será debatido e acompanhado por grupo de trabalho da Câmara Legislativa do Distrito Federal, conforme anunciado em comissão geral no plenário da Casa, nesta quinta-feira (14).
A constituição do grupo foi proposta pelo presidente da Comissão de Educação, Saúde e Cultura (Cesc), deputado Gabriel Magno (PT), que coordenou a discussão desta tarde. O GT terá representantes da Cesc; Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec); Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural do DF (Condepac); Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e entidades da sociedade civil.
“O Teatro Nacional é o principal espaço cultural da capital. Precisamos devolvê-lo para a população e para os músicos da Orquestra Sinfônica, que hoje está sem casa e vive a insegurança de onde vai ensaiar e tocar”, afirmou Magno.
Projetado em 1958 por Oscar Niemeyer, o Teatro Nacional Claudio Santoro (TNCS) está localizado no coração de Brasília. É um complexo que abriga, além da Sala Martins Pena e seu foyer (que estão em reforma), a Sala Alberto Nepomuceno, o Espaço Cultural Dercy Gonçalves, o anexo do Teatro, e a única sala de ópera e ballet de Brasília: a Sala Villa-Lobos.
A necessidade de se conciliar a preservação das características desse bem tombado e a solução de demandas funcionais (de acústica, segurança e acessibilidade, por exemplo) guiou a comissão geral de hoje e foi apresentada como desafio ao projeto de reforma e restauro, em especial da Sala Villa-Lobos.
“É um desafio hercúleo restaurar uma obra da magnitude do complexo do Teatro Nacional. Finalmente, depois de muitos anos, estamos efetivando a restauração de parte daquela obra, e é natural haver dúvidas e curiosidades”, afirmou o procurador distrital dos Direitos do Cidadão (PDDC) do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, José Eduardo Sabo Paes. A procuradoria tem realizado visitas à obra para acompanhar o cumprimento de recomendações feitas pelo MPDFT com relação a acessibilidade, saídas de emergência, entre outros aspectos. Na opinião de Sabo, é possível implementar as recomendações “sem desnaturar o projeto de Niemeyer”.
“Tombamento não significa engessamento”, frisou o presidente do Iphan, Leandro Grass. “A obra da Martins Pena já está bastante adiantada”, informou, registrando que o órgão realizou, do ano passado para cá, 14 visitas técnicas e produziu mais de 10 pareceres sobre a reforma.
(Re)Adequação acústica
“Antes de fazerem obra em teatro, consultem os artistas que lá trabalham”, pregou a coreógrafa e bailarina Gisèle Santoro, viúva do maestro Claudio Santoro – quem dá nome ao Teatro Nacional. A artista não poupou críticas ao projeto original do espaço: “Tem problemas do início ao fim, o que acontece numa sala se ouve na outra”.
“A Sala Villa-Lobos é um desastre acústico conhecido”, observou o professor José Nepomuceno, arquiteto especialista em acústica. De renome internacional, o profissional participou da comissão geral de forma remota. “A falha acústica nasce por conta da volumetria da sala”, explicou. Ele disse não conhecer o projeto proposto na reforma, mas reconheceu que a solução é “um desafio para um bem tombado”.
Também com participação virtual, o arquiteto Silvio Olsman seguiu na mesma linha. “Seria muito triste ter um teatro como esse que não funciona direito”, afirmou. Ele, que trabalha com projetos de intervenção em bens culturais tombados, defendeu ser preciso encontrar um “meio termo” para transformar o espaço com vistas a atender demandas acústicas e outras, sem perder as características do bem tombado.
“Desde a sua inauguração, a Sala Villa-Lobos é alvo de queixas no que concerne à acústica, o que acaba limitando a qualidade da experiência artística no espaço”, insistiu a vice-presidente da Associação dos Músicos da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro, Paula Pires.
A clarinetista leu um manifesto dos músicos reforçando a necessidade de uma reforma “que valorize e potencialize o nosso Teatro”:
“A Sala Villa-Lobos, como se encontra hoje, apresenta um ponto surdo na plateia. Imagine o quão frustrante seria sentar-se no meio da plateia e não conseguir escutar nada do concerto, show ou espetáculo de teatro. Precisamos aproveitar essa possibilidade de reforma para corrigir esse e tantos outros problemas acústicos da sala”.
Participação e transparência
A vice-presidente do Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural do Distrito Federal (Condepac), Angelina Quaglia, enalteceu a relevância do Teatro Nacional e reclamou da falta de transparência e participação na elaboração do projeto de reforma. “Qualquer situação relacionada ao Teatro deveria passar pelo Conselho, mas a nós foi negado verificar, saber, ver o projeto e realizar visitas técnicas”, criticou. Ela contou ter visto fotografias com betoneiras praticamente em cima de um jardim de Burle Marx – que também é tombado. “As fotos me assustaram”, disse, insistindo no envolvimento do Condepac no processo.
Já Leiliane Rebouças, da Associação dos Amigos do Teatro Nacional (Atena), discordou de Quaglia: “Não tenho nenhuma reclamação com relação à transparência do projeto, até porque a Solé (empresa responsável pelo projeto de restauro) fez várias reuniões no Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) apresentando o que seria feito”. Ela cobrou, contudo, mais transparência por parte da Novacap no que diz respeito aos custos e gastos da obra.
Convidadas para a comissão geral desta quinta, a Secretaria de Cultura e a Novacap não enviaram representantes para o debate.