Esta foi, até ao momento, a ação de maior envergadura por parte de Pyongyang desde que Joe Biden assumiu a presidência dos Estados Unidos, em janeiro.
Ainda não houve qualquer reação por parte da Administração Biden a esta ação, que é vista como um teste mais sério à nova liderança norte-americana.
O Comando do Pacífico dos Estados Unidos (USPACOM), que supervisiona as forças militares na região Ásia-Pacífico, disse na quinta-feira que o teste comprova “a ameaça que o programa de armas ilícitas da Coreia do Norte representa para os seus vizinhos e para a comunidade internacional”, adiantou Mike Kafka, porta-voz do USPACOM.
O Japão informou entretanto que nenhum destroço destes mísseis foi encontrado nas águas territoriais do país. De acordo com Seul e Tóquio, os mísseis voaram cerca de 450 quilómetros e atingiram uma altitude de 60 quilómetros antes de caírem fora da zona económica exclusiva dos nipónicos.
Este teste de mísseis balísticos, o primeiro num ano, ocorre poucos dias depois de outra ação militar, com o lançamento de dois mísseis de curto alcance no último domingo.
Reação ao desprezo de Biden?
Em relação a esse teste de menor dimensão, Biden considerou que não se tratava de uma provocação, mas antes uma ação normal (“business as usual” foi a expressão utilizada), uma vez que os lançamentos dos mísseis de curto-alcance não são proibidos pelas resoluções do Conselho de Segurança da ONU que visam especificamente a Coreia do Norte.
Harry J. Kazianis, responsável de estudos coreanos no Center for the National Interest, em Washington, refere ao New York Times que o lançamento mais recente é provavelmente “uma reação à desvalorização” por parte de Joe Biden do teste anterior.
Soo Kim, ex-analista da CIA para assuntos norte-coreanos, disse ao Financial Times que a ausência de uma política clara por parte da Administração Biden em relação a Pyongyang pode ter levado o regime a este teste, de forma a procurar “reafirmar a sua relevância”.
“Kim sabe que os Estados Unidos não podem ignorar as provocações norte-coreanas para sempre”, sublinha a ex-analista ao FT.
Durante a Administração Trump, o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, continuou a desenvolver tecnologia militar com potencial nuclear. Na tentativa de abrandar as atividades de Pyongyang, o Presidente Donald Trump encontrou-se diretamente com o líder norte-coreano – algo inédito no histórico de relações entre os dois países – mas as negociações falharam.
Na última semana, a Administração Biden revelou que tinha tentado por várias vezes entrar em contacto com o regime norte-coreano através da missão daquele país nas Nações Unidas, mas que não tinha recebido uma resposta.
De destacar estes testes ocorrem também poucos dias depois da chegada de Mun Chol Myung aos Estados Unidos. Trata-se do primeiro norte-coreano a ser extraditado para solo norte-americano, tendo o empresário sido acusado de branqueamento de capitais através do sistema financeiro norte-americano para fornecer bens de luxo à Coreia do Norte.
O empresário de origem norte-coreana foi extraditado para os EUA a partir da Malásia, o que enfureceu o regime eremita e levou ao corte de relações com o país do sudeste asiático.
Promessas aos aliados
Laura Bicker, correspondente da BBC em Seul, considera que o teste com mísseis balísticos realizado esta quinta-feira constitui um acontecimento muito relevante. “O teste do último fim de semana pode ser ignorado. Mas este constitui uma violação clara” das normas internacionais, refere.
A correspondente assinala ainda que este é uma prova para a liderança norte-americana, sobretudo numa altura em que dois elementos destacados da Administração Biden “acabaram de regressar do Japão e da Coreia do Sul, onde prometeram que a ‘América estava de volta’ no apoio aos seus aliados”.
Na última semana, o secretário de Estado Anthony Blinken e o secretário de Defesa Llyod Austin fizeram um périplo pela região, tendo participado em reuniões de alto nível no Japão e na Coreia do Sul.
A ação norte-coreana desta quinta-feira acontece também no mesmo dia em que se inicia o percurso da Chama Olímpica, quando faltam menos de quatro meses para o início dos Jogos Olímpicos em Tóquio.
Yoshihide Suga, primeiro-ministro japonês, convocou uma reunião de emergência do Conselho de Segurança Nacional e foi o primeiro líder internacional a condenar o regime norte-coreano por este lançamento que “representa uma ameaça à paz e estabilidade do Japão”.