Registros do MPF indicam monitoramento do caminho das provas do caso Odebrecht e contrapõem alegações da defesa de Lula
Documentos do Ministério Público Federal (MPF) questionam as conclusões de uma perícia realizada pela defesa de Lula, que serviu de base para a decisão do ministro do STF Dias Toffoli, no último dia 6, de anular as provas do acordo de leniência da Odebrecht. Os registros do MPF apontam que o trajeto das evidências foi acompanhado e que os arquivos estiveram guardados em uma sala-cofre na Procuradoria-Geral da República (PGR). No domingo (17/9), a coluna noticiou que a perícia contratada pela defesa de Lula alegou que a Lava Jato cometeu erros ao coletar provas dos crimes da empreiteira, comparando a situação a uma investigação de estupro que utiliza o material genético coletado pelo próprio estuprador, sem a presença de autoridades. Os documentos do MPF, obtidos pela coluna, fazem parte do mesmo processo no STF e apresentam uma perspectiva diferente.
Em fevereiro de 2018, os registros da Secretaria de Perícia, Pesquisa e Análise da PGR indicaram que houve monitoramento durante a “recepção, cópia e armazenamento dos dados confidenciais” de dois sistemas da Odebrecht: Drousys e My Web Day B. As provas de ambos os sistemas foram invalidadas por Toffoli neste mês.
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De acordo com o MPF, a cópia dos arquivos da empreiteira na Suécia foi realizada por meio da ferramenta “Forensic Toolkit (FTK) da Access Data2,” uma ferramenta amplamente utilizada na realização de cópias forenses digitais e análises de materiais forenses para preservação da integridade dos dados, conforme afirmou o documento, assinado por Dalton Tavares, coordenador de Prospecção de Soluções Investigativas da Secretaria de Perícia da PGR, e Gilberto Mendes, assessor-chefe de Investigações Especiais da PGR.
Em outra parte, o material destacou que dois procuradores da Lava Jato receberam pessoalmente quatro HDs com os arquivos da Odebrecht em 23 de março de 2017. Cinco dias depois, esses dados foram protegidos por criptografia e enviados à PGR, através do procurador Daniel de Resende, então secretário de Pesquisa e Análise. Dois dias depois, em 30 de março de 2017, a equipe da PGR fez uma cópia completa do material e preservou o original. Os arquivos foram então guardados em uma sala-cofre dentro da PGR. Em dezembro daquele ano, atendendo a uma decisão judicial, a PGR entregou dois HDs e um pendrive com os dados a peritos criminais federais selecionados pela Justiça Federal.
A Odebrecht também detalhou o rastreamento das provas em documentos fornecidos ao MPF. Um desses documentos, de dezembro de 2017, menciona cartas de dois procuradores suíços abordando a coleta de dados pelas autoridades daquele país. Em uma reunião na PGR em 14 de junho de 2017, funcionários da PGR e colaboradores da Odebrecht reafirmaram a integridade das provas entregues ao MPF.