Eduardo Leite bombou na web após se declarar gay, mas perdeu onda das redes

Após criar fato político de projeção nacional, governador tucano voltou para o patamar anterior ao de entrevista à TV Globo

Na madrugada do dia 2 de julho, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), abriu a sua intimidade em entrevista ao programa “Conversa com Bial”, afirmando em rede nacional de TV: “Eu sou gay. E sou um governador gay, não sou um gay governador.” A declaração criou um fato político de projeção nacional para o tucano, que disputa em novembro as prévias para ser o candidato do PSDB à Presidência da República — seu principal adversário é o governador de São Paulo, João Doria. Um levantamento feito a pedido de VEJA pela AP Exata, empresa especializada na análise de dados de redes sociais, mostra que Leite bombou na internet com a repercussão da entrevista. O jovem político gaúcho, de 36 anos, chegou a alcançar 26,8% das menções feitas a presidenciáveis nas redes sociais no dia da entrevista — quase o dobro de Lula, que obteve 14,3% na mesma data. Um dos rostos cotados para assumir o papel de terceira via e romper a perniciosa polarização PT-Bolsonaro, Leite também conseguiu mais menções positivas que negativas (60% a 40%) dos internautas. A realidade, no entanto, bateu à porta: o governador não soube aproveitar a onda criada em torno do seu nome.

O levantamento da AP Exata constatou que, no dia 30 de julho, quase um mês depois da entrevista, Leite retornou ao patamar verificado antes de se revelar homossexual. Atingiu naquela data um índice pífio: 0,3% das menções entre os presidenciáveis. Antes da entrevista à TV Globo, ele tinha um desempenho praticamente idêntico: aparecia em 0,2% das menções feitas aos internautas sobre os principais nomes colocados na disputa pelo Palácio do Planalto.

“O político que quiser se consagrar vai ter de investir nas redes. Eduardo Leite precisa aproveitar os holofotes voltados para ele. Me parece que o governador está muito aquém da estratégia que precisa ter para se tornar realmente relevante nesta pré-campanha”, avalia o CEO da AP Exata, Sérgio Denicoli. Para Denicoli, o caso Eduardo Leite expõe o funcionamento frenético das redes: o governador gaúcho logo chamou a atenção dos internautas quando informou ser gay, atraiu os olhos do eleitorado, mas o assunto foi deixado para trás na mesma velocidade. “Ainda tá em tempo dele aproveitar esse conhecimento que ele teve, ele era um político muito regional, e agora já tem conhecimento nacional.”

O impacto da entrevista também foi medido pelo PSDB, que constatou que o programa da Globo gerou uma repercussão “muito positiva para o partido em termos de inserção e construção/fidelização de um público novo e jovem”.  Após o apogeu com as declarações dadas ao jornalista Pedro Bial, o tucano conseguiu atrair um pouco de atenção dos internautas no dia 10 de julho, mas desta vez em um contexto desfavorável. Naquele dia, uma militante de esquerda foi presa ao protestar contra uma motociata de Bolsonaro em Porto Alegre. “A Brigada Militar atuou hoje para garantir a ordem e a segurança a manifestantes de ambos os lados – como pode ser visto neste vídeo. No único incidente, diante de ameaças de agressão e desacato a policiais, uma manifestante foi contida e levada à delegacia”, escreveu Leite nas redes sociais.

Eduardo Leite tem apelo entre jovens e gaúchos, aponta uma pesquisa encomendada pelo DEM, que lançou luz sobre a percepção dos eleitores quanto aos principais nomes lançados para assumir a liderança da terceira via. O levantamento, feito em maio deste ano (antes, portanto, da entrevista à Globo), mostra que Leite tem a imagem associada às ideias de renovação, mudança e “gás/vontade de fazer”’. Por outro lado, também é visto como um político desconhecido, muito jovem, sem maturidade, “guri de vó” e cara da riqueza”. Para superar esses problemas, o gaúcho terá de trabalhar a imagem — nas redes e fora delas.

Rafael Moura, Veja

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