Esqueleto de menino encontrado em Portugal é apontado como evidência de que hominídeos tidos como de espécies diferentes, reproduziram entre si
Ninguém poderia imaginar que a criança, apelidada de “menino do Lapedo”, graças ao nome do vale português onde foi encontrada, fosse gerar tamanha controvérsia. Como acontece com nove entre 10 achados antropológicos ou arqueológicos importantes, o esqueleto veio à luz por acaso. Em 1998, um estudante da Universidade de Évora chamado Pedro Ferreira, sem muitas idéias para um trabalho da faculdade, resolveu explorar o vale do Lapedo em busca de exemplares de arte rupestre, e acabou encontrando uma ou outra figura antropomórfica nos penhascos calcários da região. A notícia do achado chegou ao Instituto Português de Arqueologia (IPA) através da Sociedade Torrejana de Espeleologia e Arqueologia (STEA), e João Zilhão, diretor do instituto à época, pediu a dois membros da sociedade para verificarem o relato de Ferreira.
A idéia de que houve um longo processo de contato e mestiçagem entre ambos os povos, com efeitos aparentes milênios depois do desaparecimento dos neandertais “puros”, é a principal conclusão de um trabalho de 610 páginas publicado em 31 de janeiro deste ano, em Lisboa. A monografia, batizada com o título inglês Portrait of the Artist as a Child (“retrato do artista quando criança”), reafirma uma posição polêmica que vem pondo em polvorosa o mundo da antropologia desde que foi exposta pela primeira vez, em 1999. Para os autores, não há mais discussão: ao deixar a África e colonizar a Europa, a humanidade moderna não exterminou os antigos habitantes do continente, mas, em maior ou menor grau, misturou seus genes aos deles. E o esqueleto do menino é a prova mais cabal disso.
“Nossa interpretação ainda é basicamente a mesma que tínhamos quando ele foi analisado pela primeira vez”, diz o paleoantropólogo norte-americano Erik Trinkaus, da Washington University. “O que fizemos com essa monografia foi analisar em detalhes todos os traços do esqueleto e da cultura material que o cerca. E esse trabalho nos ajudou a ver de forma muito clara o complexo mosaico de características modernas e neandertais que o compõem”, afirma Trinkaus. Em colaboração com o arqueólogo português João Zilhão, da Universidade de Lisboa, ele coordenou o trabalho da equipe internacional de 30 especialistas que resultou na publicação da monografia.,Golpe de sorte
FONTE: Scientific American Brasi
FOTO : Site Arqueologia e Pr´- Historia