Telefonista de call center envolvido nas cobranças ilegais conta como operava a central de atendimento a aposentados enganados
Uma ex-funcionária de telemarketing revelou ao Metrópoles como funcionava por dentro o “SAC das fraudes” no esquema bilionário que aplicava descontos indevidos em aposentadorias do INSS. Ela trabalhou em uma das centrais contratadas pelas entidades investigadas, e detalhou como era instruída a atender milhares de aposentados lesados. A entrevista foi concedida sob anonimato, por medo de represálias.
O golpe operava com telemarketing ativo e receptivo: além de convencer aposentados a se filiarem por meio de links e ligações, os mesmos call centers recebiam as reclamações — sempre com roteiros prontos para enganar os prejudicados. “A gente dizia que os próprios beneficiários ou seus filhos aceitaram pelo WhatsApp. Mas ninguém sabia que era fraude — nem a gente lá dentro”, contou.
A operadora atuava na Truetrust Call Center, empresa ligada ao lobista Antonio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”, e ao sócio Domingos Sávio. Ambos são suspeitos de operar o esquema junto a servidores e dirigentes do INSS. A fraude é estimada em R$ 6,3 bilhões.
Segundo a ex-funcionária, os atendentes recebiam instruções para prometer devolução do dinheiro em 10 dias — prazo que foi sendo estendido até cair no esquecimento. Desde o fim de 2024, os reembolsos teriam praticamente parado.
Três entidades citadas por ela — CBPA, Abrasprev e Abapen — aparecem nas investigações da Polícia Federal. A CBPA, que não fazia descontos em 2022, passou a arrecadar quase R$ 58 milhões em 2023 com a cobrança de “mensalidades”.
A revelação da funcionária mostra como o sistema fraudulento era sustentado por um atendimento estruturado para fingir legalidade, acalmar vítimas e ganhar tempo. A AGU tenta agora recuperar bilhões em prejuízos e responsabilizar os envolvidos.