Presidente cita números altamente questionáveis em fala sobre combate à fome
Durante a abertura da Cúpula de Líderes do G20 nesta segunda-feira (18), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) apresentou dados controversos ao discutir os avanços no combate à fome no Brasil. Lula afirmou que:
“Em um ano e 11 meses, o retorno desses programas já retirou mais de 24,5 milhões de pessoas da extrema pobreza. Até 2026, novamente sairemos do Mapa da Fome.”
Origem e problemas nos dados
Os números apresentados pelo presidente se baseiam em um estudo da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Pessan), divulgado em 2022. A pesquisa, realizada durante a pandemia de Covid-19, estimou que 33 milhões de brasileiros enfrentavam insegurança alimentar grave.
No entanto, especialistas apontam inconsistências na metodologia do estudo. Com amostra limitada a 12.745 domicílios, os dados foram obtidos por meio de oito perguntas aplicadas em contexto pandêmico, o que pode não refletir a realidade do país como um todo.
Discrepância com dados da ONU
Relatórios de agências ligadas à ONU apresentam números significativamente menores. Entre 2021 e 2023, estimou-se que 8,4 milhões de brasileiros viviam em situação de fome severa. No mesmo período, cerca de 39,7 milhões enfrentavam insegurança alimentar moderada, enquanto 14,3 milhões estavam em estado grave de fome.
Essas discrepâncias levantam questionamentos sobre o uso das estatísticas pelo governo brasileiro em discursos internacionais.
A fala de Lula ocorre em um momento em que o Brasil busca reforçar sua liderança em debates globais sobre segurança alimentar e desigualdade social. Contudo, a divergência nos números pode gerar críticas e ofuscar os esforços nacionais para enfrentar a fome.