Então vamos aprofundar a análise geopolítica, trazendo mais contexto histórico e possíveis impactos para as relações Brasil–EUA e Cuba.
Mais Médicos: de política pública a pivô diplomático
O programa Mais Médicos, lançado em 2013 no governo Dilma Rousseff, nasceu oficialmente para suprir a falta de profissionais de saúde em regiões remotas do Brasil. A adesão massiva de médicos cubanos — fruto de um acordo com o governo de Havana mediado pela OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde) — deu ao programa alcance nacional, mas também colocou o Brasil no centro de um debate internacional sobre trabalho forçado e exploração de mão de obra.
Para Washington, as chamadas “missões médicas” cubanas funcionam como instrumento de soft power e financiamento do regime. Médicos recebiam parte reduzida do pagamento acordado entre os países, enquanto o restante ia para o governo de Cuba. Relatos de desertores reforçaram a narrativa norte-americana de que se tratava de uma forma de coerção estatal, com restrição de liberdade e controle de deslocamento.
O movimento dos EUA
A ação anunciada por Marco Rubio, secretário de Estado americano, insere-se numa estratégia mais ampla de isolar economicamente e politicamente Havana. Ao atingir também ex-funcionários brasileiros, Washington envia um recado claro: países que facilitam esse modelo podem sofrer retaliações diretas, incluindo sanções e restrições de visto.
Essa não é uma postura nova — desde 2017, o Departamento de Estado classifica programas médicos cubanos como “tráfico de pessoas patrocinado pelo Estado”. A diferença agora é a inclusão explícita de autoridades brasileiras na lista de responsabilizados, algo que amplia o atrito diplomático.
Impacto nas relações Brasil–EUA
- Tensão diplomática imediata – O tom da mensagem da Embaixada, chamando o programa de “golpe diplomático” e acusando autoridades brasileiras de encobrimento, cria um desgaste sem mediação prévia.
- Pressão sobre organismos multilaterais – Ao mencionar a OPAS, Washington também lança suspeitas sobre a atuação de uma agência ligada à OMS, abrindo caminho para disputas em fóruns internacionais.
- Dilema político interno – O governo brasileiro tende a reforçar a defesa do programa como símbolo de política pública bem-sucedida. Porém, a acusação norte-americana pode fornecer munição para opositores e complicar relações comerciais e estratégicas com Washington.
E o papel de Cuba?
Para Havana, as missões médicas são a principal fonte de divisas depois do turismo. Estima-se que, no auge, a exportação de serviços médicos rendia mais de US$ 6 bilhões anuais. Perder ou reduzir contratos com países de grande porte como o Brasil representa não apenas impacto econômico, mas também erosão de influência internacional.
Cenário possível nos próximos meses
- Escalada retórica entre Brasília e Washington, com trocas de declarações e possível convocação de embaixadores.
- Debate no Congresso brasileiro sobre a continuidade ou reformulação do programa.
- Pressão sobre outros países da América Latina que mantêm acordos semelhantes com Cuba, como Venezuela e México.
- Maior polarização interna no Brasil, com o tema usado como bandeira tanto pela oposição quanto pela base governista.
Se quiser, posso agora fazer uma linha do tempo visual do Mais Médicos, conectando os principais eventos políticos e diplomáticos desde 2013 até as sanções anunciadas em agosto de 2025. Isso ajudaria a mostrar como o programa evoluiu de uma política de saúde para um ponto de tensão internacional.
Quer que eu prepare essa linha do tempo?






