O fitness virou fast-food — e agora a conta chega dentro de um caixão

Vamos parar de fingir surpresa: essa morte no supino não é “acidente isolado”. É o desfecho óbvio, lógico, quase matemático de uma fórmula que as academias estão repetindo há anos: muito aluno, pouca supervisão, zero responsabilidade. O Brasil transformou o culto ao corpo em uma cadeia de fast-food, e nos espanta que alguém tenha morrido esmagado numa máquina? O espanto verdadeiro é isso não acontecer toda semana.

Quem frequenta academia há mais de dez anos sabe exatamente do que estou falando. No começo dos anos 2000, professor de educação física era professor — ponto. Ele estava lá para olhar, corrigir, orientar, intervir. Era o cara que te impedia de fazer besteira. Hoje, professor contratado virou enfeite de parede. Fica ali com a camisa da academia, um crachá e o olhar perdido, porque aparentemente descobriu-se que, se não for personal, não vale a pena gastar energia com o aluno comum. Resultado: cada iniciante virou órfão de instrução.

E enquanto isso, as redes de academia cresceram como franquia de hambúrguer — no estilo McDonald’s mesmo, com aquela lógica industrial que não combina nem um pouco com movimentos que podem literalmente te matar. Um único responsável técnico para vinte academias. Vinte. O sujeito é praticamente um espírito onipresente, só que sem onisciência. O aluno que se vire. Aperta play na máquina e seja o que o supino quiser.

Daí surge a cultura do personal trainer como babá de luxo. Nada contra o profissional, o problema é a deformação do ecossistema. O professor da academia, que deveria garantir segurança mínima, terceiriza sua função para o personal. E o aluno que não tem dinheiro para pagar alguém para olhar se ele está literalmente se esmagando sob 80 kg? Esse vira estatística. Estatística que ganha nome e viraliza apenas quando morre.

Aí chega a tragédia de Olinda. Um homem de 55 anos, fazendo um exercício comum, usando uma pegada perigosa — a famosa “pegada suicida”. A barra escapa, desce, atinge o tórax. A câmera registra. A internet chia. E todo mundo finge comoção. Só que o próprio profissional entrevistado admite: isso acontece sempre. Só não vira notícia porque, na maioria das vezes, não mata. Mas quando mata, lembra a todos que o ambiente que deveria zelar pela saúde virou um parque de diversões sem operador.

E não adianta culpar só a pegada errada. A pegada perigosa é consequência, não causa. Se tivesse alguém olhando, corrigindo, dando suporte, avisando o óbvio — “não faça isso sozinho”, “não use essa pegada”, “esse peso é alto demais para você” — o homem estaria vivo. O professor mesmo diz: “orientação é com profissional”. Pois é. Cadê o profissional?

O mais trágico é que todos os fatores que tornaram essa morte possível continuam aí, firmes e fortes. Academias lotadas, lucros crescentes, funcionários reduzidos, atendimento inexistente. A fórmula perfeita para repetir o desastre. E vão repetir. Porque, no fim, é mais barato pagar uma indenização do que contratar oito professores de verdade para cada turno.

E aí vem a cereja do bolo: as academias vão colocar cartazes de “segurança em primeiro lugar”, fazer vídeo no Instagram com musiquinha, fingir responsabilidade social — e continuar exatamente do mesmo jeito. Porque a lógica é simples: o modelo de negócio atual não comporta atenção personalizada, e a indústria fitness decidiu fingir que isso não importa.

Mas importa. Importa porque um supino, mal feito e mal supervisionado, vira arma. Importa porque a barra não pergunta se você viu tutorial no YouTube. Importa porque, sem alguém para dizer “pare”, o corpo humano encontra seu limite do pior jeito possível.

Essa morte não foi acidente. Foi resultado. Resultado de um sistema que abriu mão da função educativa, sacrificou a supervisão em nome do lucro e terceirizou a segurança para quem pode pagar. Não é tragédia inesperada — é aviso prévio.

E o aviso está só começando. Porque, do jeito que as academias funcionam hoje, o próximo morto não será surpresa. Surpresa será se não houver um próximo.

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