Quantos goianos precisam morrer para alguns se convencerem de que covid mata?

Os capitães de entidades de multimilionários estão descontentes com o novo coronavírus

Por Nilson Gomes, DM

Resumo literário do pensamento de um ex-dono de fábrica de bolacha, enriquecido à custa de contratos com o Ministério da Educação para entupir milhões de estudantes com rosquinhas de coco artificial:

“Os corpos dos goianos mortos caberiam no auditório da federação. Não nos bancos, mas empilhados”.

Se especulador imobiliário gostasse de música, seu poderoso-chefão sambaria enquanto o povo dança:

“Que pandemia é esta que mata mais que atropelamento de automóver, mata mais que bala de revórver e menos que a peste negra e a gripe espanhola?”

Um senador do baixíssimo clero, ex-contador de um senador assassinado no Norte, diria: “O presidente Bolsonaro não usa máscara, vai a zá gromeração e nunca morreu. Fui prefeito de Senador Canedo, nunca baixei lóquidáu e nos meus dois mandatos ninguém morreu de covid 19”.

Os presidentes das federações das indústrias e do comércio são de tal maneira geniais que descobriram a cura para o vírus SARS-CoV-2: ouvi-los. Se o Governo de Goiás, em vez de seguir as orientações dos estudiosos da Universidade Federal, tivesse ouvido Sandro Mabel e Marcelo Baiocchi, pronto!, problema resolvido, pandemia extinta. Baiocchi é tão importante que deseja ser ouvido até quando sai emburrado e passa-se a palavra para alguém sensato, como Otavinho Lage, presidente da Adial, o clube dos bilionários que odeiam pagar impostos.

Sim, tem objeto mais abjeto que esses dois sujeitos sem predicados. É o obscurantismo do senador Vanderlan Cardoso, um tipo que saiu de Goiás lambendo embira e voltou cheio da grana. Como se sabe, rico sabe tudo. Se os professores da UFG soubessem mais que Vanderlan, seriam mais ricos que ele, donos da universidade, não empregados.

Vanderlan está encantado por conviver com os Bolsonaro e não iria trocar opinião do presidente da República pelo estudo de um grupo de pés-rapados da academia.
Os cientistas divulgaram nesta segunda-feira, 29/6, a informação de que até setembro 18 mil goianos vão morrer de covid 19 se o isolamento social for mantido na frouxidão das últimas semanas. Propuseram lockdown (quarentena de verdade), como em março, porém com isolamento intermitente, com revezamento aberto/fechado para o comércio.

Líderes da qualidade de Ronaldo Caiado e Iris Rezende decidiram acolher as sugestões dos cientistas. Os prefeitos de Goianira (Carlão da Fox) e Senador Canedo (Divino Lemes) também aderiram imediatamente. O de Aparecida, Gustavo Mendanha, vai também optar por manter seu povo vivo.

Mas os cientistas foram apedrejados por Mabel, Baiocchi e Vanderlan, que mal sabem escrever o próprio nome com o corretor ortográfico acionado. Entendem de ganhar dinheiro com facilidades, de preferência graças a governos amigos — o que não é o caso no momento. Em Medicina, são analfas de pai e betos de padrasto.

Infelizmente, tipos de baixo nível intelectual como Bolsonaro, Mabel, Vanderlan e Baiocchi falam asnices com muita propriedade. Por isso, convencem outros asnos. O case Vanderlan precisa ser estudado pelos especialistas da UFG, pois tem o primário incompleto e emposta a voz para falar de vírus como se fosse infectologista. E há quem creia apenas porque ele é rico.

Esse quarteto fora de si criou um axioma fake, ainda que Bolsonaro, Mabel, Vanderlan e Baiocchi sequer saibam se axioma é um desodorante pra sovaco (axila, axioma, tudo a ver) ou o novo ritmo baiano (axé, axioma…). Segundo eles, o que é bom para combater o vírus é necessariamente ruim para o comércio. A premissa é tão falsa quanto o debate. Quando o assunto é pandemia, deve-se fugir do “eu acho”, “eu concordo”, “eu discordo”. Ou tem comprovação científica ou é baboseira.

O que os pesquisadores da UFG disseram tem comprovação científica. O que o quarteto fora de si diz é baboseira.

A intenção é fomentar um Vila x Goiás com estádio lotado: de um lado, os heróis macunaímicos Bolsonaro, Mabel, Vanderlan e Baiocchi negando a letalidade do novo vírus; de outro, os vilões da universidade afirmando que 18 mil goianos vão morrer de covid até setembro. Não é esse o jogo. O que existe é o planeta contra o vírus, ainda que imbecis bilionários desejem manipular pequenos e microempreendedores.

Ninguém vai ver Vanderlan dentro de um restaurante servindo batata palha da Mico’s a clientes que o rodeiam. Nem Mabel cercado de estudantes esquálidos que aguardam as bolachas redondas com um buraco no meio. Muito menos Baiocchi no meio da saroba tentando vender lote para ganhar uns trocados pela corretagem. O isolamento de ricaços é à beira da piscina de suas mansões degustando vinho e queijos raros. Empregados e fregueses que se danem.

MEIs e micros precisam entender que não é questão de torcer contra. Ninguém quer fechar lojas. Ninguém quer falência. Assim como ninguém quer contaminar nem ser contaminado. Ficar em casa não é “uma” alternativa, é “a” alternativa.

Aves de mau agouro voam de loja em loja, banca em banca, barraca, restaurante, lanchonete comparando o fechamento do comércio a abertura de covas. Só os abutres das entidades desceriam a essa fossa. Não há como comparar a vida de uma pessoa física com a de uma pessoa jurídica. Nada se equipara à vida de uma mulher, um homem, uma criança, principalmente se essa mulher for sua mãe, esse homem for seu pai, essa criança for sua filha, e qualquer deles for você.

Pandemia também não se iguala a nenhum outro acontecimento, por ser o mais danoso deles. A grande notícia é que passa. Daqui a um século, seremos apenas lembrança. E a memória há de revelar que Bolsonaro e os inexpressivos Mabel, Baiocchi e Vanderlan só se convenceriam da gravidade da covid quando vissem as ruas lotadas com 18 mil corpos de goianos que eles pretendiam para clientes ou tinham como empregados.

O Google de daqui a cem anos também vai mostrar que o quarteto fora de si não realizou seu sonho macabro porque líderes corajosos do desassombro de Ronaldo Caiado impediram a carnificina.

Nilson Gomes é advogado e jornalista

Reprodução: BSB TIMES

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