Sobretaxa de 50% entra em vigor nesta sexta-feira; senadores e Itamaraty tentam última negociação
A três dias da entrada em vigor da sobretaxa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, o governo federal segue sem interlocução direta com a administração de Donald Trump. O chamado “tarifaço” começa a valer nesta sexta-feira (1º), e, até o momento, não houve contato direto entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Trump.
O vice-presidente e ministro da Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin (PSB), afirmou que não houve discussão com Lula sobre uma eventual ligação ao presidente americano. Nos bastidores do governo e do Senado, há divergência: enquanto parte defende uma ligação direta de Lula com Trump como tentativa derradeira de contenção da crise, outra avalia que o gesto poderia sinalizar submissão diante da Casa Branca.
Nesta segunda-feira (28), Lula sancionou um programa para facilitar exportações de micro e pequenas empresas, enquanto criticou a postura americana: “Tem divergência? Senta numa mesa, coloca a divergência de lado e vamos resolver, e não de forma abrupta, individual”.
Diplomacia sob tensão e última cartada do Brasil
O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, está em Nova York para compromissos com a ONU e se colocou à disposição para seguir a Washington, caso haja sinal verde para negociação com o alto escalão americano — o que, até agora, não ocorreu.
Paralelamente, uma comitiva de oito senadores brasileiros percorre Washington em reuniões com parlamentares e empresários. No primeiro dia de trabalho, o grupo se reuniu com representantes da Câmara de Comércio Brasil-EUA. Foi sugerido o envio de uma carta à Casa Branca solicitando o adiamento do tarifaço. Contudo, os empresários demonstraram pouco otimismo quanto à reversão das tarifas.
Durante os encontros, os senadores tentam separar as questões políticas das econômicas. Integrantes da comitiva relataram que o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, tem atuado nos bastidores para minar os esforços diplomáticos. Ele tem feito críticas públicas à missão brasileira nos EUA e estimulado sanções, associadas ao processo judicial contra seu pai no Supremo Tribunal Federal (STF).
Animosidade crescente em Washington
A situação é agravada pelo endurecimento do secretário de Estado americano, Marco Rubio, que demonstra crescente aversão ao governo brasileiro. Analistas indicam que os discursos de Lula têm sido acompanhados de perto por Rubio, tanto no Brasil quanto em eventos internacionais, o que contribuiu para o esgarçamento das relações bilaterais.
A deterioração chegou a um ponto em que observadores diplomáticos falam em risco de suspensão das relações diplomáticas e possível retorno da embaixadora brasileira nos EUA. Segundo a CNN, representantes de empresas como IBM, Cargill e Dow Chemical aconselharam o Brasil a não retaliar as tarifas, alertando que confrontos diretos podem gerar reações ainda mais duras do governo Trump.
Eles sugerem como alternativa o compromisso de investimentos bilaterais e acordos de médio prazo, como ocorreu em negociações anteriores com países como Japão, Indonésia e Vietnã.






