Primeiras doses chegarão em setembro; companhia realizada teste clínico da vacina Oxford no Brasil, com 2.000 voluntários
A companhia farmacêutica AstraZeneca, que firmou um acordo para produzir e distribuir a vacina do novo coronavírus desenvolvida pela Universidade de Oxford, se prepara para iniciar a produção da vacina em escala entre o final de junho e o início de julho. “Nosso plano é produzir globalmente a vacina entre o final deste mês e o início de julho, em escala. Se fizermos isso teremos 400 milhões de doses iniciais no final de setembro, começo de outubro” disse o presidente da AstraZeneca do Brasil Fraser Hall em entrevista à EXAME.
As doses chegarão, portanto, antes do encerramento do teste clínico com a vacina, que tem duração de um ano. A vacina desenvolvida pela universidade está em fase 3 de teste, que deve envolver 50 mil pessoas, sendo pelo menos 2.000 pessoas no Brasil. Outras 10.000 pessoas serão testadas no Reino Unido, e 30.000 nos Estados Unidos. Também devem participar do teste países da África e da Ásia, ainda não confirmados.
A AstraZeneca tem mantido conversas com o Ministério da Saúde para definir quantas doses da vacina serão fornecidas ao Brasil e quando essas doses chegarão. Dentre os temas a serem definidos está a forma como as vacinas chegarão até o Brasil. Uma das possibilidades em discussão é que as doses sejam produzidas no país. Dentre as instituições que teriam condições de produzir a vacina estão o Instituto Butantã, em São Paulo, e a Fiocruz, no Rio de Janeiro. As doses usadas no teste clínico estão sendo produzidas na Europa. A AstraZeneca tem uma fábrica em Cotia, São Paulo, mas que não está habilitada para a produção de vacinas.
A expectativa, segundo Hall, é que os primeiros resultados dos testes estejam disponíveis no final de agosto, o que permitiria à companhia já disponibilizar a vacina em setembro. O risco de iniciar a produção antes do resultado dos testes é possível principalmente devido às parcerias que estão sendo firmadas entre a AstraZeneca e governos e entidades pelo mundo. “O fato de podermos tomar esse risco vem também das parcerias”, afirma Hall. A companhia se comprometeu a disponibilizar 2 bilhões de doses da vacina.
“Esse momento reforça os valores centrais da nossa companhia, que são o paciente em primeiro lugar e a proximidade com a ciência. Nossos funcionários estão muito orgulhosos de poder auxiliar a população brasileira”, afirma Hall.
A AstraZeneca tem um acordo de licenciamento com a Universidade de Oxford, pelo qual a companhia tem a responsabilidade de produzir a vacina desenvolvida pela universidade, e o compromisso de vender a vacina sem gerar lucro durante a pandemia. A vacina é uma das mais promissoras contra a covid-19, e uma das poucas que já está sendo testada em humanos.
O governo britânico também se comprometeu a pagar 65,5 milhões de libras à AstraZeneca para garantir 100 milhões de doses da vacina aos britânicos. A AstraZeneca está em negociações com outros governos e entidades internacionais.
Teste no Brasil
O estudo com a vacina no Brasil foi liberado pela Anvisa na terça-feira, 2. O estudo será randomizado e terá como objetivo determinar a segurança e eficácia da vacina. Os estudos iniciais para a vacina foram realizados na Inglaterra e os resultados demonstraram que o perfil de segurança da vacina foi aceitável.
O recrutamento de voluntários para o teste no Brasil deve começar nas próximas semanas. Assim que começar, a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que lidera o teste, vai divulgar contatos para os interessados em participar no estado.
Serão recrutadas pessoas que atuem na linha de frente do combate à covid-19 ou estejam mais expostas o vírus, como profissionais de saúde, motoristas de ambulância e pessoas que trabalhem na manutenção de hospitais. O voluntário precisa ter entre 18 e 55 anos e não pode ter sido infectado pelo novo coronavírus.