Perguntas e Respostas: Tire dúvidas sobre a mistura de vacinas da AstraZeneca e Pfizer

Estratégia está sendo usada em cidades em que há falta do imunizante desenvolvido em parceria com a Oxford, como São Paulo

O desabastecimento da vacina da AstraZeneca contra a Covid, que afeta cidades em pelo menos cinco estados do país, levou alguns locais a usarem o imunizante da Pfizer para a segunda dose de quem tinha tomado AstraZeneca.

A intercambialidade de vacina já foi estudada e usada em diversos países do mundo. No Brasil, ela é recomendada pelo Ministério da Saúde para gestantes que tenham tomado a primeira dose da AstraZeneca. Veja, a seguir, as principais dúvidas sobre a estratégia:

Recebi a primeira dose da vacina da AstraZeneca. Vou ficar imunizado se a segunda for da Pfizer?

Sim. Na Europa, vários países usaram Pfizer para completar o esquema de quem tinha recebido AstraZeneca quando essa vacina foi suspensa em razão de raríssimos efeitos adversos. Além disso, estudos comprovaram a efetividade.

— Com milhares de pessoas na Europa vacinadas com esse esquema foi verificado que os níveis de anticorpos neutralizantes eram até maiores do que entre aqueles que tinham tomado as duas doses da mesma vacina, AstraZeneca ou Pfizer — afirma o infectologista Alexandre Naime, membro do Comitê de Monitoramento Extraordinário da Covid-19 da Associação Médica Brasileira (AMB).

Então por que mantemos o esquema com duas vacinas do mesmo fabricante?

Segundo Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim), a diferença é pequena e não justifica alterar toda a estratégia vacinal em curso.

— É um dado que usamos mais para pensar nos reforços. Sabemos que, para a terceira dose, o ideal é o esquema heterológico. O maior desafio do Brasil desde o começo é o gerenciamento de estoque para primeira e segunda doses, por isso o ideal é fazer a o estoque com a mesma vacina.

Há algum risco em misturar as duas vacinas?

Estudos publicados há vários meses já mostraram que essa estratégia é bastante segura. De acordo com Naime Barbosa, há inclusive menor efeito adverso para aqueles que tiveram reações leves na primeira dose da AstraZeneca.

—Estamos falando de segunda dose no contexto de circulação da variante Delta, que exige duas doses. Você não tem proteção contra formas graves da doença provocada pela Delta se não tiver recebido a segunda dose. Por isso, esses estoques de Pfizer que chegaram ao Brasil devem ser priorizados para completar o esquema de quem tomou uma dose só. Essa é a prioridade indicada pela Associação Médica Brasileira (AMB). Depois, devemos dar a dose de reforço para idosos, vacinar adolescentes com comorbidades e, só então, vacinar adolescentes sem comorbidades.

Podemos misturar todas as vacinas?

Não há estudos sobre esquema heterólogo com a CoronaVac, que tem o intervalo entre as doses mais curto. E a vacina da Janssen é de dose única. Portanto, o esquema possível, até o momento, envolve AstraZeneca e Pfizer.

Isso vai alterar o passaporte de vacina?

Não há consenso entre os especialistas sobre essa questão. A entrada em outros países vai depender das regras de cada um.

Para Naime Barbosa, a estratégia não deve trazer problemas porque o esquema vacinal estará completo com duas doses com vacinas reconhecidas aqui e fora. Outras milhares de pessoas foram vacinadas assim.

Ballalai diz que como esse esquema heterólogo ainda não é rotina no exterior, tendo sido usado por países em que havia falta, como ocorre no Brasil, pode ser que algum deles não aceite. Na dúvida, é importante confirmar as regras de cada destino antes de realizar uma viagem.

Constança Tatish, O Globo

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