Ford deixa o Brasil, mas não a Argentina

Funcionários comemoram a produção de 900mil unidades da pick-up Ranger na Argentina (grande parte exportada para o Brasil)

O quê levou a fabricante mais antiga no país a preferir se instalar numa Argentina em plena crise?

Por Hélio Rosa para o BSB Times

O noticiário econômico desta terça-feira (12) foi tomado de assalto pela notícia de que a montadora americana deixará o país. Poderíamos esperar que isso fosse parte de uma estratégia global, mas não parece ser o caso. Mês passado a empresa anunciou o investimento de R$ 3 bilhões na Argentina.

É sabido que por lá a produção é diferente, na Argentina, a Ford investe em carros grandes, como picapes e SUVs. A Ranger vendida aqui, por exemplo, vem de lá. Enquanto aqui a fabrica concentrou a produção dos carros de passeio.Porém, os carros populares, não são mais lucrativos para a Ford.

Esta estratégia de focar apenas em produtos com um grau alto de lucratividade também foi implementada pela Ford no seu país de origem. Nos EUA, tirando o clássico esportivo Mustang, a montadora somente oferta pick-ups e veículos comerciais. Até mesmo cogita tirar de linha os clássicos sedãs de sua marca de luxo Lincoln.

“Nosso dedicado time da América do Sul fez progressos significativos na transformação das nossas operações, incluindo a descontinuidade de produtos não lucrativos e a saída do segmento de caminhões (…) Esses esforços melhoraram os resultados nos últimos quatro trimestres, entretanto a continuidade do ambiente econômico desfavorável e a pressão adicional causada pela pandemia deixaram claro que era necessário muito mais para criar um futuro sustentável e lucrativo”, disse Lyle Watters, presidente da Ford na América do Sul.

Então, já que a Argentina era um país com expertise para a fabricação desses modelos de maior valor agregado, foi mais fácil ficar por lá. Há mais de uma década esse é o perfil da produção argentina.

Mas não podemos deixar de pontuar que se a questão é lucratividade a carga tributária absurda do Brasil interfere de frente com isso.

Um estudo da Associação Nacional das Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) mostra que um carro no Brasil paga entre 48,2% e 54,8% de taxa, levando todos os impostos como ICMS, ISS, PIS e Cofins em efeito cascata (quando a base de cálculo de um impostos soma o valor de outro, ou seja, quando você paga imposto sobre imposto).

Nisso o meio político deve fervilhar de “pais da criança” ao longo dos próximos dias. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), já se antecipou e postou em sua conta do Twitter que a decisão “é uma demonstração da falta de credibilidade do governo brasileiro, de regras claras, de segurança jurídica e de um sistema tributário racional.”

Curioso é que a reforma tributária passou os últimos dois anos trancafiada na gaveta da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados, cuja chave pertence a ele mesmo.

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